Estudantes e professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foram para o Largo Glênio Peres, no centro de Porto Alegre, na tarde desta quarta-feira (2), para conversar com a população sobre o que é feito dentro da instituição, apresentar serviços oferecidos à população e alertar para as consequências dos cortes que vêm sendo promovidos pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) para a educação e a produção científica do país, bem como para a manutenção desses serviços. Mesmo sob chuva, a exposição pública ‘UFRGS na rua’ apresentou à população pesquisas, projetos de extensão e serviços prestados pela comunidade acadêmica à sociedade. Além disso, estudantes distribuíram panfletos e procuraram conversar com a população sobre a importância da universidade para o conjunto da sociedade.
Jaqueline Rocha, do curso de Fonoaudiologia da UFRGS, foi uma das estudantes que decidiram ir para o centro da capital falar da relevância do que é produzido na sua área para a vida das pessoas. “Estamos aqui divulgando serviços de saúde e atendimentos a baixo custo que a universidade oferece nas áreas de Odontologia, atendimento psicológico e Fonoaudiologia. Esses atendimentos são normalmente caros no mercado convencional. Na UFRGS, a gente consegue oferecê-los a baixo custo, por 5 reais o atendimento. Dependendo do procedimento a ser feito é muito abaixo do preço do mercado”, afirmou.
Ela e um grupo de colegas também procuraram conversar com a população sobre os cortes que a universidade está sofrendo e as consequências disso. “Estamos com milhares de estudantes sem esses estágios, o que significa milhares de pacientes sem atendimento. A maioria não conhece o que a gente faz na universidade em relação à saúde, não conhece os atendimentos que estão disponíveis. Mesmo que a universidade tenha uma ampla divulgação, os serviços que ela oferece não são conhecidos, especialmente pela população de baixa renda”, assinalou.
Agnes Gossenheimer, professora da Faculdade de Farmácia da UFRGS, também foi para o centro da capital, acompanhada por um grupo de estudantes, para conversar e mostrar para a população a conexão que existe entre o que é feito dentro da universidade e o cotidiano da sociedade. “Viemos aqui mostrar alguns dos serviços que o farmacêutico pode prestar à população, como a medida da pressão arterial, da glicemia, além de orientações sobre a prevenção de doenças crônicas e sobre o uso racional de medicamentos”, explicou.
A recepção da população à oferta desse serviço foi muito boa, relatou a professora. Em pouco mais de duas horas, cerca de 120 atendimentos já tinham sido prestados à população no Largo Glenio Peres. “Muita gente veio medir a pressão arterial e a glicemia. A gente sabe que uma boa parte da população não tem uma assistência de saúde de forma devida. Esses serviços muitas vezes não chegam a população ou ela não consegue acesso a eles. Tivemos casos de pessoas que estavam com problemas de uso de medicamentos, glicemia alterada ou pressão elevada. Prestamos atendimento também a uma crise hipertensiva que aconteceu aqui. Foi muito bom tanto para os estudantes como para a população conhecer o que fazemos”.
Presidente da União Estadual de Estudantes (UEE) e estudante de Direito da UFRGS, Gerusa Pena destacou que a ideia das 48 horas de paralisação convocadas para os dias 2 e 3 de outubro foi mobilizar estudantes e professores para levar a universidade para a rua e para trazer a rua para dentro da universidade. “Muitos setores da sociedade, para além da comunidade acadêmica, não sabem o que é produzido dentro da universidade e, por isso, acabam não defendendo ela neste cenário de cortes de recursos que o governo Bolsonaro está promovendo. Por isso estamos aqui na rua hoje. O que é feito dentro da universidade não é balbúrdia, como diz o presidente. Muitas pessoas não sabem que o remédio que tomam só existe porque, em algum momento, existiu uma pesquisa dentro de uma Faculdade de Farmácia, que envolveu pesquisadores e estudantes bolsistas. O que procuramos mostrar aqui hoje é que atacar a educação acaba com o futuro do Brasil”, destacou. Os estudantes, acrescentou, pretendem dar prosseguimento a esse tipo de atividade, levando mostras como a que ocorreu nesta quarta no Largo Glênio Peres também para outras regiões da cidade, incluindo comunidades da periferia.
Ana Paula de Souza dos Santos, estudante de Matemática e coordenadora do Diretório Central de Estudantes da UFRGS, destacou que a universidade pública representa hoje cerca de 95% da pesquisa feita no Brasil. “Tudo o que a gente produz dentro da universidade é para o desenvolvimento do país e para a população. Com os cortes que estão acontecendo, isso não poderá mais ser realizado”, afirmou.
O cenário atual motivou a decisão de propor um calendário de atividades para além das mobilizações de rua, para que se abrisse também um espaço de conversa direta com a população e para apresentar de um modo mais concreto a importância do tema da educação e o que isso tem a ver com a vida cotidiana. “Se formos para uma parada de ônibus e perguntarmos para as pessoas se elas se preocupam com a educação, todo mundo vai dizer que se preocupa. Mas gente percebe que muita gente, mesmo dentro da UFRGS, não conhece o que a universidade produz e os serviços que ela presta. Está sendo bem importante o que estamos fazendo aqui hoje. As pessoas estão fazendo perguntas, pegando os materiais que estamos distribuindo e querendo saber mais”, destacou Ana Paula.
Nesta quinta-feira (3), a mobilização da comunidade acadêmica em defesa da universidade pública e da educação prossegue. Às 17 horas, começa a concentração em frente à Faculdade de Educação da UFRGS, no Campus do Centro, para a caminhada até a Esquina Democrática onde será realizado o Ato em Defesa da Educação e da Ciência.
Edição: Sul 21