O ato das centrais sindicais, movimentos sociais e estudantes contra a reforma da Previdência e os diversos ataques à soberania nacional realizado nessa terça-feira (24), na Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre (RS), teve como tônica a destruição do Brasil promovida pelo governo Bolsonaro. Por cerca de uma hora, representantes de diversas entidades denunciaram à população as políticas de cortes dos direitos, de entrega do patrimônio público e da Amazônia e de subserviência aos interesses dos Estados Unidos, como ficou claro no pronunciamento do presidente, horas antes, no discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
As lutas estaduais e municipais também foram reforçadas durante a manifestação, com críticas às gestões do governador do RS Eduardo Leite e do prefeito porto-alegrense Nelson Marchezan Junior. Ambos vêm seguindo a cartilha bolsonarista de redução da estrutura pública, com agenda de privatizações e de corte de serviços públicos em áreas como saúde e educação. Outro tema destacado pelos manifestantes foi o impacto ambiental da Mina Guaíba, projeto que pretende minerar carvão a céu aberto na região metropolitana de Porto Alegre. No dia 30 de setembro, às 18h, será realizada uma audiência pública sobre o projeto no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa do RS.
O ato havia sido convocado para acontecer no dia que o Senado começaria a votação da reforma da Previdência. No decorrer do dia, a votação foi adiada duas vezes. Eder Pereira, diretor da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), ressaltou a importância da luta nas ruas para barrar a reforma no Senado. “A votação foi transferida para a semana que vem, eles estão começando a fazer água naquele barco, a não se entender, é a resposta das ruas, da população e da perda de popularidade daquele fascista que foi pra ONU achando que podia falar pelos brasileiros”, disse.
Diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul (Sintrajufe/RS), Marcelo Carlini também criticou a participação de Bolsonaro na ONU, que envergonha os brasileiros. “O mundo está estarrecido com o que esse presidente fala, um presidente eleito sendo fruto de uma fraude, das fakenews”, afirma. Para ele, está em curso um plano que requer atenção: “Esse senhor dialoga com sua própria base, quer tirar o ódio das redes sociais e trazer para as ruas, e organizar esse ódio contra nós, contra os sindicatos, contra o movimento estudantil, contra os movimentos sociais. A condição de derrotar esse bando de odiosos e malucos é fazer, desde a base, a preservação das nossas organizações como única força social capaz de botar fim no pesadelo que é Bolsonaro, que está colocando o país no retrocesso”.
“A juventude também quer se aposentar, também quer ter direito à escola, à saúde e à universidade”, disse Gabriela Silveira, da União Estadual de Estudantes/RS (UEE). Ela também criticou a fala de Bolsonaro na ONU, que disse que a Amazônia não é patrimônio da humanidade. “A Amazônia é o maior patrimônio natural do nosso planeta e o grande patrimônio do nosso país, assim como os trabalhadores, a saúde e a educação brasileira. Patrimônios que precisamos defender. Bolsonaro representa o antinacionalismo, o retrocesso, o fim dos direitos, por isso cada um que está passando precisa se unir à nossa luta, nossa bandeira é defender o Brasil”, afirma.
O antinacionalismo do governo também foi ressaltado pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT/RS), Claudir Nespolo. “Esse pessoal que está governando o Brasil, e sua maioria no Congresso Nacional, passou muito longe da pátria, longe do significado de país, porque eles expressam no dia a dia um espírito vira-latas. Como falar em patriota se a agenda deles é vender as empresas públicas todas? Os Correios, olha a luta que os trabalhadores dos Correios estão fazendo. O Trensurb... sem ter o metrô, sem ter o pré-sal, sem ter a Petrobras. Esse pessoal passou longe de qualquer conversa a respeito da soberania”, denuncia.
Sobre a votação da reforma da Previdência no Senado, Nespolo reafirmou a posição do senador Paulo Paim (PT), de defesa dos direitos, e questionou a posição dos outros dois representantes gaúchos: “O Rio Grande tem ainda o Heinze e o Lasier, que na campanha diziam que iriam fazer o bem para as pessoas, mas estão lá fazendo o mal e votando contra os trabalhadores e a favor do capital, do grande empresariado e do interesse dos estrangeiros”.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Estado do Rio Grande do Sul (FETAPERGS), José Pedro Kuhn, o governo federal está terminando com o direito a uma vida digna, o que preocupa os aposentados, que já não têm quase nenhuma oportunidade. “Por que não fazem auditoria na dívida pública?”, questiona, como alternativa aos cortes na renda que sacrificam os trabalhadores. “Reforma é quando vêm ajustes e melhorias para seu povo, e isso não tá acontecendo”, afirma.
Neiva Lazzarotto, dirigente da Intersindical, lembrou das diversas lutas que estão em curso no atual momento. O Sindisaúde e o Simpa estão na luta pela saúde em Porto Alegre, em resistência à extinção do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf). Os servidores públicos estaduais lutam pelo fim do congelamento dos salários e o fechamento de turmas nas escolas públicas. O Sindijus entrou em greve por tempo indeterminado com a ameaça de extinção de 5 mil cargos e por reposição salarial. “Cada um tem sua luta, mas estamos todos juntos para defender nosso país, nossas estatais, lutar por emprego, contra fim do SUS, contra fim das universidades”, conclui.
Edição: Marcelo Ferreira