Neste mês de setembro, o professor, escritor, ativista político, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e ex-candidato à Presidência da República, Guilherme Boulos (PSol), está numa Caravana pelo Brasil para debater a situação política e os desafios para enfrentar os ataques do governo Bolsonaro. Nesta terça-feira, dia 17 de setembro, ele esteve em Porto Alegre e participou de uma atividade na UFRGS, que devido à forte chuva do final da tarde, teve que ser transferida da frente da Faculdade de Educação (Faced) para o vão da Reitoria. Também participou de um debate com o deputado estadual Fábio Ostermann (Novo) no programa Esfera Pública, apresentado pelos jornalistas Juremir Machado da Silva e Taline Oppitz, na Rádio Guaíba.
Na manifestação na UFRGS, para uma plateia principalmente de estudantes, Guilherme Boulos falou sobre o projeto Future-se e a necessidade de construir uma forte oposição nas ruas, com combatividade, com trabalho de base. “Precisamos de uma oposição com coragem de fazer os enfrentamentos que precisam ser feitos. Esse é o desafio que nós temos. Eu nem vou falar de coragem porque quem enfrentou essa chuva para vir aqui hoje, eu não tenho a menor dúvida que tem. Só que isso não pode parar aqui hoje. Quando a gente se junta, saímos mais fortes. A gente vê que não está sozinho. A gente sai mais animado”, destacou.
Na avaliação de Boulos, o Future-se compromete o futuro, compromete o modelo de desenvolvimento diferente para o país. “O Future-se acaba com qualquer possibilidade de sermos um país soberano, porque sem ciência, sem produção científica, o Brasil vai estar condenado à lógica neocolonial de ser eternamente produtor de milho, soja, de minério de ferro para a Europa, para a China, de ser a fazenda do mundo. Essa lógica neocolonial vem desde lá de atrás, quando a gente vendia a cana-de-açúcar e comprava o açúcar refinado dos portugueses e dos espanhóis. É a isso que se volta, ao modelo primário, extrativista, agroexportador do qual nós nunca nos livramos. A saída para ele é o investimento em ciência pública, e é isso que está sendo ameaçado. A base disso está sendo destruída com o projeto Future-se. Por isso precisa ser barrado”, concluiu.
Projeto de Bolsonaro é de destruição
O ativista analisou ainda que o governo Bolsonaro está apresentando um projeto de destruição nacional e que exige uma reação urgente, e não daqui há quatro anos, na próxima eleição. “Temos que ter responsabilidade com a história. Tem coisa que não tem volta, como as queimadas e a devastação da Amazônia, o envenenamento da nossa comida, a invasão das terras indígenas pelo garimpo, o assassinato de indígenas e quilombolas, isso meus amigos é hoje, é para agora. Resistir a isso é agora, não é amanhã.”
Para Boulos, a destruição é geral, e ameaça também a nossa democracia. “É verdade, nós nunca tivemos democracia plena nesse país, a democracia nunca chegou nas periferias, porque não tem democracia política sem democracia econômica, sem democracia social. Agora, as conquistas que nós tivemos, mínimas, para um ambiente democrático nesse país estão sendo destruídas, de várias formas, com a criminalização dos movimentos sociais, com censura, com ataque às liberdades, com ataque às oposições, e talvez o maior exemplo disso seja ter um criminoso, um fraudador da justiça na pasta de Ministro da Justiça. Sérgio Moro representa um acinte para a democracia brasileira. O que nós temos visto nos últimos meses com as revelações do The Intercept, que não à toa tem sido atacado pelo bolsonarismo e pela turma do atraso, em qualquer país com seriedade, em qualquer país com o mínimo de normalidade democrática seria suficiente para tirar o Moro do ministério e botar no banco dos réus, e tirar o Lula da cadeia”, ressaltou.
Boulos afirmou que é um projeto de futuro que está em jogo e nós temos urgência. Segundo ele, não podemos ter no Brasil um governo da selvageria, um governo da destruição, um governo da guerra, e do lado de cá, uma oposição dócil, uma oposição domesticada, uma oposição que só fica na internet, com hashtag (#) o dia inteiro. “Precisamos reconstruir uma oposição de rua, temos que nos organizar, lutar, resistir. Já tem muita gente organizada aqui, e quem não está precisa se organizar, precisa construir, apontar alternativas de resistência, de enfrentamento de condução de futuro. Precisamos sair com compromisso de enfrentamento.”
“Nós não temos tempo para ter medo”
Ele encerrou lembrando uma frase de um grande lutador brasileiro chamado Carlos Marighella: “Nós não temos tempo para ter medo”. O momento agora é o momento que exige da gente coragem, completou, “o momento exige da gente ousadia, exige da gente não silenciar. Tem toda uma tentativa de desmoralizar nossa luta, tem toda uma tentativa com fake news, com mentiras de desmoralizar a construção de processos de resistência”. Boulos salientou ainda que quando os estudantes foram às ruas no mês de maio, o Bolsonaro os chamou de idiotas úteis, os sem teto, os sem terra são chamados todo dia de vagabundos, quem vai à luta por direito é atacado por esse governo como vagabundo. “Já passou da hora da gente levantar a cabeça, ter ousadia, não levar desaforo e dizer quem são os vagabundos de verdade deste país.”
E convidou a todos e todas a não desistir de uma sociedade onde todas as formas de amor sejam respeitadas e sejam valorizadas. Onde a tolerância vença o ódio, onde os livros vençam as armas. “Nós somos portadores de uma alternativa de futuro, e precisamos nos inspirar numa geração que foi antes da minha e de muitos que estão aqui, que nos permitiu estar hoje aqui em uma universidade pública, enfrentando um governo e debatendo o que a gente quer fazer. Uma geração que enfrentou torturas, perseguições, prisões. Uma geração que derrotou uma ditadura militar de 21 anos nesse país. Essa geração só sobreviveu a tanta atrocidade porque ela não desistiu dos sonhos dela. Porque ela acreditou nos seus sonhos. Este sonho que nos move é muito forte e muito poderoso. Já moveu muita gente e já moveu muitas revoluções na nossa história, não podemos abrir mão deles. E saibam, mesmo em um período difícil, mesmo quando a gente vê 10 ataques, 10 absurdos por dia, mesmo quando a gente está aqui encolhidinho no frio, na chuva, não esqueçam nunca e a história vai mostrar mais cedo do que tarde que nós estamos do lado certo da história. O projeto que a gente representa é o projeto de um futuro digno, de um futuro livre e de um futuro democrático, e é isso que nós temos que irradiar a cada dia. É isso que nós temos que irradiar nas nossas lutas. É isso que nós temos que construir de maneira cada vez mais ofensiva para derrotar a agenda e esse desgoverno do Jair Bolsonaro”, finalizou.
Edição: Marcelo Ferreira