Eluza Maria dos Santos Gonçalves chega a gastar R$ 300, 00 por mês com a conta de luz na sua residência. Uma tarifa alta, assim como a de muitos brasileiros, visto que o país é o 4º no ranking mundial de tributos no setor, de acordo com a Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee). A moradora do bairro da Lomba do Pinheiro, zona Leste de Porto Alegre, espera que através da instalação de placas solares que aquecem a água encanada, sua tarifa seja reduzida. Ela foi uma das seis famílias contempladas em um projeto encabeçado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que almeja que a iniciativa se torne política pública.
Conforme explica Fernando Fernandes Damasceno Júnior, da coordenação do MAB, o projeto foi estimulado a partir de uma experiência que o movimento tem desde 2015, onde se conseguiu uma negociação com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que houvesse a implantação das placas. “Já que eles financiavam as barragens, eles também tinham que fazer projetos para os atingidos”, aponta.
O Movimento executa há algum tempo o projeto de instalação de placas solares no interior do Estado. De acordo com Fernando, o movimento já tem contabilizadas mil famílias na região sul que usufruem da tecnologia. Em Porto Alegre, as reuniões com a Associação Moradores da Lomba do Pinheiro, que definiu as primeiras casas a receberem as placas, começou no ano passado. A escolha das seis famílias teve como base a participação das mesmas nas reuniões.
O projeto de instalação das Placas Solares do Sistema ASBC (Aquecedores Solares de Baixo Custo) foi custeado com o edital do Fundo Socioambiental Casa. As famílias não arcam com os custos dos painéis e da instalação, que fica em torno dos R$ 3,5 mil. Como comparação, para se ter uma ideia da acessibilidade da tecnologia, as placas solares geradoras de energia elétrica tem um custo de cerca de R$ 30 mil.
Mais do que o uso da tecnologia, Fernando destaca que a questão mais importante a ser debatida é a alta taxa da energia elétrica. “Estamos sendo roubado todos os meses na conta de luz. Por isso a importância de fazer um estudo com as famílias, ter um processo de organização, de formação para que se consiga entender que precisamos construir alternativas diante das altas tarifas de energia que todos brasileiros estão submetidos”, argumenta.
O projeto
As instalações no bairro Lomba do Pinheiro, que fica próximo a barragem Lomba do Sabão, abandonada há cerca de dez anos pela prefeitura de Porto Alegre, iniciaram em julho desse ano e acabaram nesse final de semana. A moradora da Vila Herdeiros, do bairro Lomba do Pinheiro, Maria Aparecida, foi a primeira moradora a ter o sistema na sua casa. “Já pude notar uma diminuição da conta de luz, já estou vendo uma economia. Na última conta já veio R$ 30,00 a menos. Sem falar que melhorou muito pra lavar louças nos dias frios, com água quente saindo na torneira da pia da cozinha. Pro banho também está muito bom, já desligo em dias quentes o chuveiro elétrico, usando apenas a água direto das placas. Estou muito feliz e vou me engajar pra conseguir esse benefício pra mais famílias.”
Nessa sexta-feira (13), foi a vez da Elusa a ter sua placa instalada. Durante a instalação, houve uma oficina onde alunos do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente São Francisco de Assis (CPCA) puderam ter contato com essa tecnologia. Grasiele Berticelli, da coordenação estadual do MAB, explicou a elas que a ideia é fazer, por exemplo, que as famílias deixem de usar energia elétrica para tomar banho, substituindo com uma água quentinha esquentada pelo sol. Ao ser indagada sobre o que acontece nos dias de chuva e de pouco sol, a representante explicou que o sistema consegue armazenar a água quente por alguns dias.
Elusa está contente com o projeto. Com o sistema funcionando, já pode ter água quente em sua pia e banheiro sem necessitar da rede elétrica. “Nós não deveríamos pagar tão caro pela luz, ainda mais nós que temos tantas barragens por aqui (o Rio Grande do Sul é o estado com mais barragens no país. Conforme apontamento da Agência Nacional de Águas (Ana), das 24 mil unidades cadastradas no País, cerca de 10 mil ficam no RS). Estou na luta para que outros vizinhos, parentes que moram aqui tenham acesso”, finaliza.
Seminário vai apresentar resultados
“Queremos criar uma experiência que seja exitosa. No dia 3 de outubro, em que se comemora o dia da soberania nacional, vamos convidar o poder público para estar presente no seminário de apresentação do projeto, onde as famílias vão apresentar os benefícios que estão usufruindo das placas, desde a diminuição da conta de luz como também pelo conforto de ter água quente em casa”, comenta Fernando.
Durante o evento, será debatido também a soberania do país. “Nosso país está sendo vendido e isso terá impacto concretos na vida do povo. Como alternativa, apontamos a organização popular e, no caso da questão energética, as placas. Para além dos moradores, também serão convidados representantes do poder público, para que conheçam a experiência e para exigirmos que se torne uma política pública para a população diante das altas tarifas de energia”, conclui Fernando.
O evento será realizado na creche municipal planeta mágico, na Vila dos Herdeiros, uma das comunidades que participam do projeto e que tem maior proximidade com a barragem Lomba do Sabão.
Edição: Marcelo Ferreira