Grito dos Excluídos no RS será na Vila Santo Operário em Canoas
São Paulo capital escureceu no meio da tarde de 19 de agosto. As queimadas na Amazônia, no Mato Grosso, em Rondônia chegaram a centenas de quilômetros de distância. “Já são 73.843 focos de incêndio de janeiro até o dia 21 de agosto. O país arde em chamas, na medição do INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais), o que caracteriza um aumento de 83% em relação ao mesmo período do ano passado. O fogo descontrolado também avança sobre áreas protegidas como terras indígenas e unidades de conservação estaduais e federais” (www.brasil247.com, 21.08.19).
As tragédias de Mariana e Brumadinho chamaram a atenção do Brasil e do mundo. “A ação das empresas mineradoras é conhecida pelas violações dos direitos humanos das populações originárias: indígenas, quilombolas, pescadores, campesinos. A Carta Pastoral do CELAM – ‘Discípulos Missionários Guardiões da Casa Comum’, 41 – denuncia que seus territórios tendem a ser ocupados, sem consulta prévia e com o apoio dos Estados, confinando essas populações ‘em espaços cada vez mais reduzidos, limitando, assim, as possibilidades de acesso a seus meios tradicionais de subsistência e destruindo suas culturas. Fica evidente, diante de tudo isso, que a Democracia está sendo atacada em princípios que até então pareciam intocados: garantia da liberdade humana, dos direitos dos grupos menos favorecidos e a justiça social” (Material de divulgação do Grito das Excluídas e dos Excluídos/2019).
No Rio Grande do Sul está em debate, com grande resistência de movimentos sociais e importantes setores da sociedade civil, um grande projeto de megamineração de carvão, o Mina Guaíba, a ser instalado a poucos quilômetros de Porto Alegre, na Região Metropolitana, no meio das ilhas do Rio Guaíba, afetando as populações ribeirinhas, o rico meio ambiente da região, no meio da confluência de muitos rios, e a água bebida pelos porto-alegrenses.
Por isso, o 25 Grito das Excluídas e dos Excluídos/2019, promovido pela Comissão 8, Pastorais e Organismos da CNBB, que vai acontecer dia 7 de setembro, proclama com força profética, refletindo a Laudato Sì e a ecologia integral do Papa Francisco: ‘Esse Sistema não Vale!’ Não valem feminicídio, intolerância, guerra, desunião, violência, corrupção, preconceito, miséria, ódio, latifúndio, injustiça, racismo. Lutamos por Justiça, Direitos e Liberdade, com saúde, terra, aposentadoria digna, educação: VIDA EM PRIMEIRO LUGAR!
São objetivos do Grito/2019:
Discutir com a sociedade o atual momento que vivemos no Brsil e no mundo, denunciando as estruturas opressoras e excludentes e as injustiças cometidas pelo sistema capitalista;
Refletir coletivamente que este modelo de ‘desenvolvimento’, baseado no lucro e na acumulação privada, não serve para o povo, porque destrói e mata;
Promover espaços de diálogo e troca de experiências para construir as lutas e a mudança, através da organização, mobilização e resistência popular;
Lutar contra a privatização dos recursos naturais, bens comuns e contra as reformas que retiram direitos das/dos trabalhadoras/es;
Ocupar os espaços públicos e exigir do Estado a garantia e a universalização dos direitos básicos;
Promover a vida a vida e anunciar a esperança de um mundo justo, com ações organizadas a fim de construir um novo projeto de sociedade.
São eixos do vigésimo quinto Grito das Excluídas e dos Excluídos:
Sistema capitalista: “Estamos falando do sistema financeiro, dos bancos, das Bolsas de Valores, que submetem as economias dos países aos modelos próprios de acúmulo, lucro e riqueza, tornando-as reféns dos seus interesses. O resultado de toda essa exclusão e violência é a miséria, a fome, a morte que diariamente nos assombram nesse processo produtivo predatório, que agride a natureza e avança cada vez mais sobre áreas ainda preservadas.”
Justiça: “Serás libertado pelo direito e pela justiça”(Is 1, 27). No Brasil, o rico tem condições de se defender e tem toda a sua versão contemplada por um tribunal, enquanto o pobre é condenado antes mesmo do julgamento. Portanto, não temos justiça que liberta e direito que protege os pobres.”
Direitos: “O povo trabalhador é quem constrói a riqueza desse país e precisa ser respeitado, ter seus direitos garantidos. Essa foi uma conquista alicerçada na Constituição de 1988 a partir de muita luta. Não podemos retroceder. A todo momento, querem tirar nossos direitos com reformas e emendas à Constituição, sem consulta e debate popular. Lutar por direito é o que nos coloca de cabeça erguida nas ruas, nos conselhos de direitos, Direitos não se negociam.”
Liberdade: “A liberdade de expressão foi uma conquista histórica através das lutas do povo. A liberdade é um dos princípios da democracia. ‘Nascemos livres pra crescer na vida, não pra ser pobres e viver na dor’ é o canto das comunidades. Tem muita coisa que Não Vale! Não vale o machismo, a opressão, a corrupção. Não vale a exploração, o suborno, a violência. Não vale nenhuma forma de preconceito, nenhuma arma ou intimidação. Não à militarização dos nossos territórios, das nossas periferias. Não ao racismo e à xenofobia. Livres, defendemos a união, a sabedoria, o direito de ser e de se manifestar. No Brasil, tem que valer a luta das juventudes, das mulheres da cidade e do campo, em defesa de um verdadeiro estado democrático de direito.”
Por estas razões, o Grito da Excluídas e dos Excluídos, no Rio Grande do Sul, será vivido e celebrado nas ruas e comunidades da Vila Santo Operário e da Vila União dos Operários em Canoas, dizendo, mais uma vez: ‘Este Sistema não Vale!’ E denunciando, em tempos de muita escuridão, que há ameaças à democracia e à soberania, trabalhadoras e trabalhadores perdendo direitos, destruição da natureza e meio ambiente brasileiros. E anunciando, ao mesmo tempo, que é preciso resistir, é preciso denunciar e que a luta do povo organizado leva a conquistas e vitórias.
Edição: Marcelo Ferreira