No RS, o 25º Grito das Excluídas e dos Excluídos será em Canoas (RS)
No dia 7 de setembro de 1979, de manhã, há 40 anos, o Irmão Antônio Cecchin, de saudosa memória, anunciou aos participantes do primeiro Encontro de CEBs do Rio Grande do Sul, realizado em São Gabriel, nas terras de São Sepé Tiarajú, a ocupação das Fazendas Macali e Brilhante, em Ronda Alta. Foi a primeira grande ocupação no campo gaúcho e brasileiro, seguida pelo Acampamento da Encruzilhada Natalino, também em Ronda Alta, a partir dos quais vai surgir o MST. As lutas e ocupações resultaram, ao longo do tempo, em centenas de Assentamentos Brasil afora, onde hoje floresce a agricultura agroeocológica, com dignidade de vida para agricultoras e agricultores familiares, camponesas e camponeses.
No dia 7 de setembro de 1979, Olívio Dutra, presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, e seu colega de Diretoria, Luís Felipe Nogueira, foram presos, em meio à greve dos bancários de Porto Alegre. A greve dos bancários foi um acontecimento que marcou época no Rio Grande do Sul, em meio às greves dos metalúrgicos do ABC paulista, mostrando a capacidade de luta e resistência da classe trabalhadora brasileira em plena ditadura militar. Também em 1979 aconteceu a grande greve dos trabalhadores da construção civil de Porto Alegre, arrastando milhares de pedreiros e serventes de obras pelas ruas da capital até o antigo estádio dos Eucaliptos.
Em 30 de outubro de 1979, o operário metalúrgico Santo Dias da Silva, da Oposição Metalúrgica de São Paulo, das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e da PO (Pastoral Operária), foi assassinado numa greve em frente a uma porta de fábrica, defendendo os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores. Uma grande manifestação, com 30 mil pessoas, à frente Dom Paulo Evaristo Arns, aconteceu na Praça da Sé em São Paulo, e repercutiu em todo Brasil.
Em 24 de dezembro de 1979, véspera de Natal, aconteceu a primeira grande ocupação urbana no Rio Grande do Sul, no Bairro Mathias Velho, Canoas, Rio Grande do Sul, depois chamada Vila Santo Operário, em homenagem a Santo Dias da Silva, com presença e apoio do Irmão Antônio Cecchin e de Matilde Cecchin. Foi a primeira ocupação urbana na Região Metropolitana de Porto Alegre, seguida com a ocupação que veio a se chamar Vila União dos Operários e de muitas outras ocupações e lutas por moradia no Rio Grande do Sul e em todo Brasil.
Por isso, o 25 Grito das Excluídas e dos Excluídos, promovido pela Comissão 8, Pastorais e Organismos da CNBB, e que vai acontecer no dia 7 de setembro, proclama, em 2019, com força profética, refletindo a Laudato Sì e a ecologia integral do Papa Francisco: ‘Esse Sistema não Vale!’ Não valem feminicídio, intolerância, guerra, desunião, violência, corrupção, preconceito, miséria, ódio, latifúndio, injustiça, racismo. Lutamos por Justiça, Direitos e Liberdade, com saúde, terra, aposentadoria digna, educação: VIDA EM PRIMEIRO LUGAR!
Por estas razões, mais que justas, o Grito da Excluídas e dos Excluídos, no Rio Grande do Sul, será vivido e celebrado dia 7 de setembro, a partir das 14h, nas ruas e comunidades da Vila Santo Operário e da Vila União dos Operários em Canoas, dizendo, mais uma vez: ‘Este Sistema não Vale!’ E denunciando, em tempos de muita escuridão, quando há ameaças à democracia e à soberania, trabalhadoras e trabalhadores perdendo direitos, destruição da natureza e meio ambiente brasileiros. E anunciando, ao mesmo tempo, que é preciso resistir, é preciso denunciar, é preciso anunciar que a luta do povo organizado leva a conquistas e vitórias.
Ao mesmo tempo em que se chora o desmatamento, a destruição das florestas e da Amazônia, as queimadas Brasil afora, Mariana, Brumadinho e um projeto de Megamineração na Região Metropolitana de Porto Alegre, o Grito das Excluídas e dos Excluídos, em seus 25 anos, além da memória, celebra vitórias e esperança. Os temas presentes na caminhada do povo em 7 de setembro nas vilas Santo Operário, União dos Operários e comunidades vizinhas serão: Nossa luta por moradia, contra os agrotóxicos, por aposentadora e previdência dignas, nossa luta quilombola, contra os cortes na educação, nossa luta indígena, por saúde popular, por direitos, contra preconceitos LGBTT, nossa luta contra a mineração, nosso mártir Santo Operário, Santo Dias da Silva.
O Grito denuncia a injustiça e a desigualdade. O Grito anuncia luta, resistência, democracia e soberania.
Edição: Marcelo Ferreira