Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Editorial | O amargo sabor de agosto

O mais cruel dos meses, carrega um rol de desastres

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
"Nossa nação foi a única que não puniu os militares pelos seus crimes"
"Nossa nação foi a única que não puniu os militares pelos seus crimes" - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Agosto, o mais cruel dos meses, carrega um rol de desastres. Em agosto de 1954, um tiro no coração arrastou multidões em pranto pelas ruas. No mesmo mês de 1961, Jânio Quadros renunciou e o país mergulhou na crise. O agosto de 1976 levou outro presidente, Juscelino Kubitschek. Agosto tragou também Miguel Arraes (2005) e seu neto Eduardo Campos (2014). E no dia 31 de agosto de 2016, concluiu-se o golpe contra Dilma para entronizar o caótico período Temer, aplainando-se o terreno para a eleição fraudulenta do que hoje aí temos.

Agosto é também o mês da Lei da Anistia. Promulgada no dia 28, está completando 40 anos. Permitiu o retorno dos exilados e seu retorno à vida política. Embora desejada, veio com defeito de fabricação. Naquele momento de transição, impôs-se uma excrescência: o perdão aos torturadores, estupradores e assassinos, responsáveis por crimes imprescritíveis, segundo tratados internacionais firmados pelo Brasil. Sancionada sob a ditadura, pode-se dizer que os autores dos crimes decidiram perdoar a si próprios.

Agosto, então, deu um travo amargo a um momento que deveria ser de consagração à justiça. Porém, no último dia 14 deste agosto de 2019, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região deu um alento às vítimas de 21 anos de barbárie impune. Aceitou denúncia de tortura e estupro feita pela presa política Inês Etienne Romeu, já falecida, contra um militar.  

Agosto, este de agora, também é o primeiro que o país passa sob o mando de um admirador da tortura e dos torturadores, que louva os porões e que acha que o erro da ditadura “foi torturar e não matar”. Diante desta figura atroz, vale notar que, no Cone Sul da América, nossa nação foi a única que não puniu os militares pelos seus crimes. E notar, ainda, que é a única em que eles voltaram ao poder.

Edição: Marcelo Ferreira