Arrisco quatro opiniões e ações para reflexão coletiva
“Governo não tem mais dinheiro e está tentando sobreviver. Ministros estão apavorados e tentando fazer milagres. Com bloqueio da verba, setores do governo correm risco de paralisar. Em casa em que falta pão, todo mundo briga, e ninguém tem razão. O Exército vai funcionar em meio expediente, porque não tem comida para dar para o recruta que é o filho do pobre. A situação que nos encontramos é grave. Não há maldade da minha parte. Não tem dinheiro, só isso, mais nada.”
As afirmações acima não são minhas, mas do Senhor Presidente da República, dias atrás.
“Bolsonaro traz insegurança e recessão se aproxima, diz investidor Lawrence Pih. O Brasil está à beira do abismo”(Brasil247, 19.08).
“Economista Samuel Pessoa está jogando a toalha: os mercados não vão resolver, precisa investimento público. Nunca havia defendido isso, diz ele, mas a sociedade está cansando; estamos falando da recuperação mais lenta em 120 anos” (FSP, 119.08}.
“Estudos indicam o colapso do investimento no Brasil. Recurso para ampliar produção cai ao menor nível em 70 anos em alguns setores. Uma recessão está chegando. É possível saber o quão ruim ela será?” (FSP, 18.08).
“Economia opera abaixo da capacidade em todas as regiões do país, diz Banco Central do Brasil” (O Sul, 18.08).
“O risco do Brasil é viver uma tempestade perfeita. De um lado, a crise internacional afugenta o capital externo do país e o medo de uma recessão global assombra o mundo. De outro, a política ambiental insensata está criando mais riscos. Os próximos meses serão de muita incerteza na economia internacional. A economia de inúmeros países está mostrando desaceleração. E isso afugenta o capital dos países emergentes. O governo continua seu delírio ideológico contra o meio ambiente. Nos países consumidores, aumentam as pressões para que sanções sejam impostas ao Brasil pelo desmatamento da Amazônia” (‘Miriam Leitão: Governo ignora alertas, e Brasil pode sofrer com erros de Bolsonaro e crise global’, Diário do Centro do Mundo, 20.08).
“Crise se agrava e estrangeiros tiram quase R$ 20 bi do Brasil” (Tijoçalo, 20.08).
“Estratégia de Bolsonaro é destruição institucional”(Kennedy Alencar, 21.08).
“Brasil vive crise de pré-nazismo, enquanto oposição emudece” (Juan Arias, El Pais, 20.8).
“Nem mesmo em 1989, pico histórico da desigualdade brasileira, alimentada pela inflação galopante, houve um período de concentração de renda por tantos trimestres consecutivos. A desigualdade no Brasil aumenta há 4 anos consecutivos, reduzindo em 17% a renda dos 50% mais pobres. A renda dos mais ricos aumentou 2,55% e do 1% mais rico, 10,1%. Em apenas 2 anos, o Brasil passou a ter 6,2 milhões vivendo com menos de R$ 233 por mês. Em 2014, o Índice de Gini estava em 0,6003. No segundo trimestre de 2019, alcançou 0,6291” (lembrando que quanto mais perto de 1 estiver o Índice, há maior desigualdade) - (O Globo, 16.08).
“O Brasil é o país que mais concentra renda no 1% da pirâmide. Relatório da Desigualdade Global da Escola de Economia de Paris diz que 1% da população brasileira (cerca de 1,4 milhão de pessoas) concentra 28,3% dos rendimentos do país, média de ganhos de R$ 140 mil por mês. Os 50% mais pobres (71 milhões) ficam com 13,9%, menos da metade do 1% mais rico: 1,2 mil mensais. Só Qatar, Chile, Líbano, Emirados Árabes, Iraque estão à frente do Brasil. De acordo com o Relatório, durante os governos do PT, entre 2003 e 2013, os mais pobres tiveram o maior ganho em sua renda: 71,5%”(Luís Nassif, 18.08).
Precisa dizer mais sobre o que espera o Brasil e o que vai sofrer o povo brasileiro no próximo período? E todas as afirmações e notícias são e/ou vêm de fontes insuspeitas: o presidente da República, o liberal Samuel Pessa, jornalões conservadores como a Folha de São Paulo, Miriam Leitão e O Globo, entre outros.
O que fazer neste contexto? Arrisco quatro opiniões e ações para reflexão coletiva, por sinal nada originais, como caminhos necessários e urgentes para enfrentar a profunda crise e o caos à vista, e construir futuro e esperança:
- Todo mundo, democratas, movimentos sociais, ONGs, esquerda, partidos, darem-se conta da gravidade da situação e estudar a situação e a conjuntura. Recomendo, entre outras, análise de Márcio Pochmann feita em Porto Alegre há poucos dias, publicada em diferentes lugares e espaços.
- Voltar ao, e reforçar o, trabalho na base, com organização popular e muita formação política. Crise desse tamanho e com o poderoso núcleo de poder dominante, nacional e internacional, só é possível enfrentar com organização na ponta e na base, nas vilas, nos bairros, nas comunidades, nas escolas, em todos os espaços possíveis. E saber que nada é de curto prazo. Leva tempo para ser feito. Muita paciência, pois.
- Mobilizações e lutas de massa unificadas com todos os setores dispostos a enfrentar e superar o caos que está à vista, de preferência com um centro de ação unificador, como foram, por exemplo, as Diretas-Já e a Constituinte no final da ditadura e início da redemocratização.
- Constituição de uma Frente Ampla e Democrática, superando eventuais divergências, envolvendo todos os setores progressistas, democráticos, populares e de esquerda da sociedade brasileira, inclusive nas eleições de 2020, com presença e participação de igrejas e pastorais progressistas, escolas e Universidades, movimento estudantil, movimentos sociais e populares de todos os matizes, organizações civis, setores progressistas da classe média, intelectualidade, e todas aquelas e todos aqueles que querem ajudar e estão preocupados com o povo brasileiro e a Nação, e se dispõem a defender a soberania e a democracia.
Edição: Marcelo Ferreira