Rio Grande do Sul

ENSINO

Mesmo informalmente, comunidade da UFRGS diz não ao Future-se

Sessão extraordinária do CONSUN debateu o projeto; posicionamento oficial sai após deliberação do conselho

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Salão de Atos da UFRGS ficou lotado para  sessão extraordinária aberta à comunidade
Salão de Atos da UFRGS ficou lotado para sessão extraordinária aberta à comunidade - Foto: Assufrgs Sindicato

Cerca de duas mil pessoas lotaram, na manhã dessa sexta-feira (16), o Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de outras 500 do lado de fora, pra acompanhar o debate sobre o programa Future-se e seus impactos nas Universidades e Institutos Federais. A atividade foi convocada por conselheiros e conselheiras do Conselho Universitário (CONSUN). Ao final da sessão, uma carta foi redigida pela comunidade universitária. Nela, foram elencadas as razões para dizer não ao Future-se, que servirá de base para que o conselho vote a posição oficial do CONSUN. A votação deve ser convocada para o dia 23 de agosto.

Estudantes da graduação, pós-graduação, docentes, técnicos, representantes sindicais e lideranças políticas compareceram nessa manhã para debater o projeto que pretende retirar a autonomia das universidades públicas e dos institutos federais. Com cartazes, faixas, botons e distribuindo jornais e folders, os manifestantes disseram não ao projeto de lei do Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras - Future-se.

Diversas universidades do país, através de posição oficial de suas reitorias, de relatórios de grupos de trabalho (GTs) ou da posição de seus CONSUNs, já manifestaram o repúdio ao Future-se, entre elas a UFCSPA, UFRJ, UFMG, UFPEL, UnB.

Comunidade acadêmica repudia projeto

Ao final do encontro a comunidade universitária aprovou nota de repúdio ao Future-se / Foto: Assufrgs Sindicato 

A sessão foi presidida pelo Reitor Rui Oppermann e a vice-reitora, Jane Tutikian. Na abertura da audiência, o reitor da universidade disse que muitas entidades brasileiras já se manifestaram contra o projeto e que o posicionamento da UFRGS será oficializada após realizações de mais sessões de debate e a deliberação do Conselho, entidade responsável pelo posicionamento final da instituição. “Temos tempo, não vamos chegar atrasados em lugar em nenhum, vamos trabalhar em conjunto para que tenhamos uma posição final embasada com muito debate na universidade. O projeto ainda é uma minuta, portando não existe como tal. O MEC está com dificuldade de conformar um projeto de lei”, explica.

O reitor afirmou não ser favorável ao programa e observou que o mesmo foi elabora sem a participação das universidades ou institutos. “Há uma ruptura do diálogo. Estamos em um risco muito grande, a própria natureza do ensino público e gratuito está em risco frente a essa proposta. Temos um grande problema nas mãos, temos uma minuta de projeto, temos um governo com viés conservador e que, desde o início de sua gestão, está nos colocando em xeque”, afirmou ao lembrar que as universidades estão sem recursos.

Após fazer as considerações críticas ao projeto, o reitor apresentou o programa e os principais eixos do mesmo. Na sequência, abriu a fala aos convidados. A primeira a se manifestar foi a professora Maria Beatriz Luce, do Núcleo de Estudos de Políticas e Gestão de Educação. De acordo com ela, nos seus mais de 50 anos de envolvimento com a UFRGS, mesmo com vários momentos de tensão, nunca sentiu tanta preocupação como no presente. “As ameaças nos atingem institucionalmente. Avançamos muito na educação nas últimas décadas, com muita luta, com investimento forte, com políticas afirmativas. Com o Future-se, não teremos condições de fazer inclusão social da educação no nosso país”, frisa.

Ana Paula Santos, estudante de matemática coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), ressaltou que, antes de falar do Future-se, é importante que se debata o presente da educação e a realidade das universidades. “É um governo que tem na educação o seu inimigo prioritário e que, desde o seu início, cortou R$ 6,1 bilhões na educação, que se reflete na educação básica e ensino superior”, aponta ao frisar a grande mobilização dos meses de maio e do último ato do dia 13, em defesa da educação.

Para Rodrigo Fuscal, coordenador-geral da Associação dos Pós Graduandos (APG), o programa Future-se, alcunhado de “Fature-se”, é mais uma medida do pacote de desmonte acelerado dos serviços públicos em curso no Brasil. “Desde os primeiros meses do governo Bolsonaro, estamos sofrendo ataques tentando deslegitimar as universidades como local de conhecimento e transformação da sociedade. Também materialmente com o corte de 30% do orçamento das universidades, que nos ameaça fechar. Precisamos estar unidos”, finaliza.

Na avaliação do Coordenador da Assufrgs Sindicato, Frederico Bartz, esse programa quer aleijar o futuro do país. “A única resposta possível ‘aqui é não!’ O projeto Future-se, assim como outros projetos do governo, visa destruir a área da educação superior o papel social das universidades. Ao dizer não ao Future-se, não podemos separá-lo de um projeto maior que é o de destruição do bem-estar social como um todo no país. Dizer não ao Future-se é dizer não à reforma da Previdência e dizer não aos outros descalabros que temos vivido no país nos últimos meses”, observa. Durante a sua fala, foi realizada uma votação com a comunidade presente, que por unanimidade aprovou o rechaço ao Future-se.

“Devemos simplesmente recusar o Future-se. Nada de tentar ‘salvá-lo’, com modificações e alterações que o tornem mais palatável. Tudo que pode ser útil no projeto já existe e é feito nas IFs. O que precisamos para o avanço da Educação Pública no Brasil é o descontingenciamento do orçamento das Instituições Federais de Ensino Superior e a revogação imediata da PEC da Morte, a Emenda Constitucional 95", afirma o diretor da ADUFRGS-Sindical, Jairo Bolter.

No final da sessão aberta do CONSUN, foi aprovada uma nota de repúdio da comunidade universitária ao Future-se.

Acompanhe aqui a audiência completa:

Parte 1 

Parte 2 

Edição: Marcelo Ferreira