Rio Grande do Sul

DESAFIOS DA ESQUERDA

Pochmann vê dificuldades na organização da insatisfação em um projeto convergente

Economista Márcio Pochmann esteve em Porto Alegre para debater Frente em Defesa da Democracia

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Depois de encontro com lideranças partidárias, aconteceu o seminário no Sindicato dos Bancários
Depois de encontro com lideranças partidárias, aconteceu o seminário no Sindicato dos Bancários - Foto: Luiza Castro/Sul21

O economista e presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, esteve em Porto Alegre nessa segunda-feira (12) palestrando no Seminário "Os Desafios de uma Gestão de Esquerda em meio à crise Democrática". A mesa contou com a participação do ex-governador Olívio Dutra e do ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont. A atividade, que foi promovida pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de Porto Alegre, aconteceu na sede do Sindicato dos Bancários. Antes do evento, o economista se reuniu com lideranças políticas do PT, PCdoB, Psol e com outras fundações vinculadas a partidos políticos para articular a criação de uma frente de esquerda na cidade.

Nos dois encontros, Pochmann abordou a situação política e social atual do país. De acordo com ele, estamos vivendo uma mudança de época profunda na história brasileira, uma mudança que pode ser comparada a duas décadas, guardadas as proporções: a década de 1880 e a década de 1930. Foram momentos cruciais em que houveram correlação de forças e que foram, de alguma forma, protagonizados pelo campo mais progressista, pontua.

“A transição de agora é de uma sociedade urbana e industrial para uma sociedade de serviço. Não há dúvidas que é uma outra sociedade, só que essa mudança de época, infelizmente, e diferentemente dos períodos anteriores, vem sendo protagonizado pela extrema-direita. Estamos vivendo, na verdade, um período pré-insurrecional; salvo os banqueiros e alguns segmentos que estão confortáveis com que está ocorrendo, no Brasil, o conjunto da população brasileira está insatisfeita com o quadro que está ai”, aponta.

O economista observa que a esquerda está com dificuldade de dialogar e de organizar essa insatisfação em torno de um projeto convergente. “Isso, talvez esteja relacionado por nós conhecermos muito pouco o que são as cidades brasileiras hoje. Perdemos a visão das cidades. A população mudou, seu modo de vida”. Pontua também que o modo do discurso racional também interfere nessa aproximação. “Você vai com discurso racional que entra por um ouvido e sai por outro. Tem algo diferente, mais sentimental, algo mais subjetivo, que nós temos dificuldade de trabalhar. Então, se formos olhar o que está dando certo do ponto de vista da comunicação com as classes trabalhadoras, com o movimento mais popular, são essas instituições religiosas, e o crime organizado”, observa.

Em sua avaliação, a forma como se faz política atualmente é muito parecida como a que se fazia no passado, quando as instituições tratavam das suas especialidades. Ele também traça o paralelo do que acontecia na década de 80, quando, por exemplo, em um discurso, na greve do ABC, com Lula falando para 100 mil pessoas, uma fala comum, diante de um grupo homogêneo, sensibilizava a todos. “Hoje, muitas vezes, uma fala comum não tem a mesma repercussão”.

Conforme destaca o economista, as instituições contemporâneas que têm mais força não são mais os sindicatos e sim as que conseguem reunir, a cada semana, 80 milhões de brasileiros que vão para assembleias, as Assembleias de Deus. “As igrejas, assim como o crime organizado, tornaram-se instituições totalizadoras, que têm uma fala para o todo, para integralidade da pessoa e não para sua parcialidade”.

Para ele, isso deve levar a esquerda a repensar as tarefas. “Como a gente chega a essa insatisfação, como a gente mostra que a opção que temos no Brasil não vai levar a uma situação melhor? É um desafio enorme. Nesse sentido, nos parece interessante aproveitar esse tempo, que não é um período eleitoral, e identificar que sociedade é essa, que cidade é essa, como as pessoas formam opinião, como constroem a sua identidade, quais são os seus valores, como elas se identificam com a cidade. Talvez, o modo de fazer política precisa ser repensado nesse novo contexto”, analisa.

Acompanhe a transmissão da conversa com as lideranças partidárias realizada pelo Brasil de Fato:

 

Edição: Marcelo Ferreira