No palco onde se mantém viva a semente do Fórum Social Mundial – a Feicoop de Santa Maria, que segue reafirmando que um outro mundo é possível e necessário, o jornal Brasil de Fato – versão Rio Grande do Sul – celebrou um ano de retomada. O noticioso, que surgiu há 16 anos, na primeira edição do Fórum, estava há pelo menos uma década e meia sem circulação periódica no estado e foi retomado por jornalistas independentes, militantes dos movimentos sociais e forças sindicais. Neste primeiro ano, se ainda não foi possível construir uma nova história, foi necessário se contar com franqueza e verdade a verdadeira história de dias nebulosos, de muita luta e resistência, inclusive para se fazer jornalismo. A atividade aconteceu no final da tarde de sábado, 13 de julho.
Frei Sérgio Görgen, dirigente do MPA e diretor do Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ) demonstrou vigor ao pronunciar-se no ato, declarando após esse primeiro ano de circulação do BdF/RS ser um ato de heroísmo de todos os envolvidos no processo, por manter quinzenalmente, 25 mil exemplares impressos levando “informação de qualidade, verdadeira, sobre o mundo real, podendo chegar às mãos de muita gente e através destas a muitos outros, como referência de notícia”. Para ele, “a batalha da comunicação é uma das mais importantes a serem travadas por uma sociedade mais justa, mais fraterna, contra a mentira, contra a exploração”.
Representando o Conselho Político do jornal, a dirigente do MST Salete Carollo citou que por trás de cada edição há um trabalho conjunto, dedicado, “há um processo quinzenal coletivo de discussão e construção de qualquer informação que passa a ser digitada e impressa nessa ferramenta”. Na sua interpretação, o BdF/RS é parte importante para o processo revolucionário da formação das consciências: “É uma ferramenta de resistência, um meio de luta, um instrumento de construção de consciências. E é preciso destacar que embora se distribua individualmente, há uma intencionalidade de que se façam leituras coletivas a partir de cada exemplar e assim seja mais um instrumento buscando também a compreensão para construção de uma unidade política”, afirma.
Falando em nome do coletivo de jornalistas que desenvolve seu ofício através das páginas do BdF/RS, Kátia Marko relembrou que este “foi um ano de muito trabalho, de muita batalha, empreendia por uma equipe guerreira a qual nós temos de agradecer pela dedicação de corpo e alma para que esse projeto pudesse acontecer, vingar e a cada dia ficar mais forte”. Relembrando que a luta pela democracia vem pautando o cotidiano de muitos jornalistas ao longo dos anos, a editora chefe do BdF/RS não teve receio em afirmar: “sem a democracia na comunicação nós não voltaremos a ter democracia no nosso país”. Neste sentido, o desafio se mostra ampliado, disse a jornalista, que pediu de cima do palco aos dirigentes para que os esforços sejam redobrados para, num futuro próximo, viabilizar uma edição com mais páginas e periodicidade semanal.
Momento político do país pauta reflexões
Se o instante estava sendo marcado por uma celebração, a reflexão sobre a conjuntura não poderia deixar de ser crítica, vide o caos administrativo, político e humano que se instalou no país a partir da eleição de Jair Bolsonaro e a ascensão ao poder dos movimentos neofacistas. “Nós estamos vendo todo esse processo de deterioração que estamos vivendo e sem uma comunicação democrática nós não temos como sair vencedores. Por isso, devemos fortalecer todos os meios de comunicação alternativos e populares”, refletiu Kátia, citando a grande rede popular que se tece a partir das rádios comunitárias, jornais e portais que têm assumido para si a tarefa.
Frei Sérgio concordou e foi além, sendo até mesmo auto-crítico: “Este cenário que está se instalando no país não seria assim se nós tivéssemos conseguido construir um outro tipo de comunicação durante os últimos 20 anos”. Para ele, o desafio de transformação do que está posto aos brasileiros e brasileiras não é simples, requer envolvimento, dedicação “e é preciso que cada um faça a sua parte”.
Para Salete, o momento é importante e especial: “num período em que a batalha das ideias se mostra tão decisiva, através desta ferramenta de comunicação estamos colocando em pauta a formação de consciências”. A dirigente sem-terra considera a comunicação popular como um elo estratégico para que se possa resgatar no projeto brasileiro a essência da democracia.
Canção de sonho e luta
O momento especial de celebração teve direito a apresentação musical de Zé Martins (Grupo Unamérica) e Pedro Rocha (Fala Fina Produções) que interpretaram a canção tema do jornal, onde se repetiram palavras de ordem que têm sido muito caras ao grupo se esforça para manter o BdF/RS nas ruas, quinzenalmente, com um mínimo de 25 mil exemplares distribuídos gratuitamente: “Sim um novo mundo é possível, com relações de fino trato: jornalismo de verdade é Brasil de Fato”.
Levante-se e pegue seu jornal
O Levante Popular da Juventude também marcou presença, trazendo sua bateria e toda energia da juventude que somou-se ao projeto do jornal e contribui diretamente na logística de distribuição, ajudando a fazer chegar às mãos dos trabalhadores e trabalhadoras cada edição ao longo dos últimos 12 meses. Ao grito de “Hei, você aí... Vai um jornal aí?”, provaram mais uma vez que a juventude está cada dia mais engajada, buscando construir conscientização e participação popular.
Edição: Marcelo Ferreira