Dois dias após o governo anunciar o início da primeira etapa da venda de quatro refinarias do sistema Petrobras, os petroleiros protestaram contra o desmonte da principal empresa pública de energia do país em frente Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), no município Canoas (RS). Os trabalhadores e trabalhadoras que, manhã desta quarta-feira (17), chegavam para cumprir seu turno na unidade gaúcha se somavam ao ato, que faz parte de uma agenda nacional de luta convocada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) nos estados em que as plantas estão sendo colocadas à venda.
Além da Refap, a FUP já convocou protestos nas refinarias Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, e Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná. Na sexta-feira (19), será a vez de mobilizar na Landulpho Alves (RLAM), na Bahia. Trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras de diversas regiões do Brasil têm participado dos atos, dialogando com a base e denunciando os impactos da atual política de pulverização da estatal e de redução dos direitos sociais.
Em cobertura realizada pela Rede Soberania, Gerson Castelano, da Federação dos Petroleiros do Paraná, explicou que “esta é uma luta nacional contra esse processo [de privatização] que está em curso com essas quatro refinarias. Porém, o processo que vai se estender por toda a Petrobras”. Para ele, é preciso mobilizar a sociedade nas ruas e nas redes para que se compreenda que a privatização vai ser danosa a curto, médio e longo prazo. “Esse processo que está acontecendo, nesse país pós-golpe, após a entrada desse governo, representa apenas os interesses financeiros os grandes bancos e os interesses internacionais”, apontou.
O coordenador geral da FUP, José Maria Rangel, disse que o objetivo dos protestos não é só dialogar com os petroleiros, mas com toda a sociedade, que precisa ser alertada sobre os prejuízos que a privatização da estatal vai trazer para o país. “É um grande engodo o que a direção da empresa e o governo vêm dizendo, que com a venda das refinarias e da Petrobras vai baratear o combustível e aumentar a concorrência, isso não aguenta 10 segundos de argumento”, afirmou.
Oito refinarias na mira
A Refap, a Repar, a RNEST e RLAM são as primeiras unidades de refino colocadas no balcão de negócios pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), conforme comunicou a direção da Petrobras. Em nota divulgada nesta segunda-feira (15), a empresa informou o funcionamento da primeira fase da privatização, chamada de não vinculante. Nela, os potenciais compradores recebem um memorando contendo informações detalhadas sobre os ativos das quatro refinarias, além de instruções sobre o processo de desinvestimento e orientações para envio das propostas.
No dia 28 de junho, havia sido divulgado um teaser de oportunidade de venda de oito refinarias. Sobre a Refap e seus ativos logísticos, a direção alegou possuir “condições excepcionais” no segmento, devido à proximidade dos campos de petróleo da costa brasileira e por sua posição geográfica isolada no Brasil. No início do ano, o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse que vender a estatal “sempre foi um sonho”, e que o governo vai “deixar de ser o endereço onde as pessoas batem na porta para reclamar de preço da gasolina e do diesel”.
Conforme os manifestantes, a venda da Refap é a privatização e a entrega do mercado de boa parte da região sul, já que a refinaria atende o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catariana.
Durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, no início de julho, o ex-engenheiro da Petrobras e atual consultor legislativo, Paulo César Ribeiro Lima, responsável por um estudo que aponta os impactos da privatização das refinarias, mostrou que a venda pode levar a monopólios privados que produzirão óleo a custos mais ainda altos do que os atuais. Lima contou que as oito unidades representam 50% da capacidade de refino do petróleo no país, ou seja, 1,1 milhão de barris por dia.
Petrobras é importante para o futuro do Brasil
“Nenhum país em desenvolvimento, como é o nosso, pode abrir mão de ter empresas fortes e controladas pelo governo. Eu gosto sempre de dar o exemplo da crise do grande capital em 2008, quando ninguém tinha dinheiro para investir. Quem fez com que o Brasil sentisse minimamente os efeitos da crise mundial foram os bancos públicos, a caixa Econômica, o Banco do Brasil e o BNDES, com a Petrobras e a Eletrobras mantendo seus investimentos”, contou Rangel. “As empresas privadas não investem da mesma forma que o governo. O petróleo vai continuar sendo a matriz energética por muitos anos e quem tem petróleo tem poder. Por isso que foi dado o golpe no nosso país e esse governo, que não tem compromisso com a soberania nacional, está querendo vender a Petrobras”, finalizou o coordenador da FUP.
A dirigente do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro-RS), Miriam Ribeiro, também entende que a Petrobras é fundamental para o desenvolvimento do Brasil. Desde 2016, recordou a sindicalista, quando o ex-presidente Temer e o ex-presidente da Petrobras Pedro Parente assumiram, “está em prática a política de preços com paridade internacional. Na verdade, é preço de paridade de importação”, que elevou o valor da gasolina, do diesel e do gás de cozinha no Brasil a valores muito acima do que era visto nos governo de Lula e Dilma.
“A gente está pagando aqui no Brasil o custo de produção nos Estados Unidos e o transporte até aqui. Antes a Petrobras fazia uma política de preços que levava em consideração o preço do barril e o preço do câmbio, mas esses não eram os fatores determinantes. E a gente podia se proteger aqui. Agora, o povo brasileiro está pagando para tirar o petróleo do pré-sal, refinar lá nos EUA e vender aqui”, apontou Ribeiro.
Luta também em defesa da aposentadoria
A agenda de privatizações e os ataques aos direitos do povo brasileiro também estiveram nas falas dos petroleiros, sindicalistas e apoiadores que por mais de uma hora permaneceram em frente ao portão da Refap dialogando e empunhando uma faixa que dizia “Defender a Petrobras é defender o Brasil”. Entre elas, a luta contra a reforma da Previdência.
“O governo atua para reduzir a renda e aumentar os custos da população, essa equação não vai dar certo”, opinou a dirigente do Sindipetro-RS. “Me preocupo muito com o que está acontecendo [no Brasil] porque não é só se aposentar. Mais de 60% da força de trabalho está na informalidade, não tem nem carteira assinada. E essas pessoas não estão pagando INSS, o que será dessas pessoas? A gente está preocupado com essa situação e só nossa luta vai poder trazer as pessoas para a realidade, para ver que essa reforma não combate privilégios”, afirmou Ribeiro.
Na visão de Marcelo Carlini, da direção eleita do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul (Sintrajufe/RS), “para todo o lado que a gente olha é uma onda enorme de ataques que nós levamos anos e anos para conquistar. Está ficando cada vez mais claro que o judiciário ocupou, desde 2016, um lugar central: interviu nas eleições presidenciais e abriu caminho para a eleição de Bolsonaro. Hoje quem paga é o povo brasileiro. Com o judiciário do jeito que está, não vai ter democracia no Brasil”, criticou.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Claudir Nespolo, ressaltou a importância de todos os trabalhadores estarem também em luta contra a reforma da Previdência, que está em votação e deve voltar à pauta no Congresso Nacional em agosto, após o recesso parlamentar. Ele contou que o plano de lutas é trabalhar com as bases eleitorais dos deputados que votaram a favor da reforma no primeiro turno para pressiona-los a mudarem seus votos. “Vamos queimar os deputados em praça pública, vamos fazer um ato nas cidades onde os deputados têm mais votos, denunciar para aquela população convencer eles para votarem contra”, explica.
“Na retomada do recesso, vamos para os aeroportos, para receber os deputados e fazer a recomendação final”, seguiu. “No dia 13 de agosto, tem a grande jornada nacional em defesa da aposentadoria, da educação, do emprego e contra o desmonte do Brasil, com muito ativismo, um dia nacional de greves e atos contra o que eles estão fazendo, preparando para uma grande greve geral quando a votação for para o Senado. Hoje, oficializamos aqui com os petroleiros e você que nos assiste tem que estar com a gente”, finalizou.
Assista à transmissão realizada pela Rede Soberania
Edição: Marcelo Ferreira