A Paulo Henrique Amorim e Chico de Oliveira
10 de julho de 2019. Sem retórica fajuta, dia para entrar na história. Na História, pelo falecimento de Paulo Henrique Amorim, o PHA, e Chico de Oliveira, dois lutadores do pensamento e da comunicação, dois lutadores comprometidos com a democracia, com os direitos humanos, com a liberdade e a soberania da Nação brasileira. Na história, com a aprovação da Reforma da Previdência por um governo resultado de fake news e mentiras, sem projeto nacional, depois de um golpe ilegítimo que está ameaçando e destruindo a democracia brasileira em construção.
Não é pouca coisa o que aconteceu na Câmara Federal no dia dez de julho de dois mil e dezenove. Escrever no calor dos acontecimentos, enquanto os fatos estão acontecendo, nem sempre com a lucidez necessária e com indignação, é difícil, entre uma escala e outra, nos salões dos aeroportos e na chegada de madrugada em Natal, RN, para o Encontro Nacional Fé e Política. Mas nessa hora, é preciso coragem, ousadia, e manter a capacidade de dizer o que deve ser dito, e de sonhar.
Sinais dos tempos. Os direitos dos pobres e das/dos trabalhadoras/es, a democracia, a soberania estão em jogo e em risco. 1964 está sendo revivido de outra forma.
O que mais vem por aí? O pior ainda estará por vir? O bloco de poder dominante no Brasil atual - grande capital internacional, direita norte-americana e mundial, donos das redes sociais (facebook, google e cia. ltda.), grande capital nacional, em especial o financeiro, grande mídia, latifúndio, conservadores e direita em geral, setores expressivos das igrejas pentecostais e evangélicas, Forças Armadas, alta classe média, partidos de centro-direita e neoliberais - está legitimado pelo resultado avassalador da votação da Reforma da Previdência na Câmara Federal.
Tudo indica que o bloco de poder vai avançar com voracidade numa reforma tributária que não mexerá nos privilégios dos ricos e ultra-ricos e seus consórcios, junto com uma rápida privatização de tudo: estatais, pré-sal, floresta amazônica e suas riquezas, e tudo mais que estiver ao alcance, inclusive saúde, educação e segurança. É o Estado mínimo, rejeitado e derrotado décadas atrás no Brasil e no mundo. Tudo sendo feito sob a vã, ilusória e mentirosa promessa da retomada rápida do crescimento econômico, da geração de empregos, da melhoria da vida do povo.
Aumentarão eles, os donos do poder, sim, a concentração de renda e a desigualdade econômica e social, destruirão o patrimônio nacional, ambiental e cultural. E tentarão enfraquecer toda e qualquer resistência, destruir, se possível, movimentos sociais e populares, acabar com a autonomia do pensamento nacional. O mercado tentará ser absolutamente livre e sem controle, dono absoluto e único da renda, da riqueza e do poder. A intolerância e o ódio tendem a crescer com quem pensa e age diferente. A pobreza, a miséria e a fome poderão aumentar geometricamente. Os sinais são, claros, estão nas ruas, à vista.
Tempos difíceis, muito difíceis se avizinham depois do dez de julho de dois mil e dezenove. Como resistir? Por quanto tempo? Há luz no fim do túnel?
Difícil saber a resposta a tantas perguntas, no calor dos acontecimentos. Mas em algum momento da história, como nas piores ditaduras, o povo há de se levantar e dizer não. O povo brasileiro há de lembrar de um Paulo Henrique Amorim, de um Chico de Oliveira, de tantas/os lutadoras/es, pensadoras/es, comunicadoras/es livres, democratas, que defenderam e continuarão defendendo a democracia, os direitos do povo, a soberania.
O Movimento Fé e Política, reunido em Natal nos dias 12, 13, 14 de julho, no seu décimo primeiro Encontro Nacional, tem como tema geral, e profético: DEMOCRACIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E ALTERNATIVAS SOCIAIS: SINAIS DOS TEMPOS NA CONSTRUÇÃO DO BEM VIVER.
Democracia, em primeiro lugar, significando igualdade, direitos, liberdade de pensamento e organização. Políticas públicas, que contemplem o conjunto da população, especialmente os mais pobres e os trabalhadores. Alternativas sociais, que estão sendo construídas, como dá exemplo há décadas a FEICOOP, Feira de Economia Solidária, acontecendo dias 12, 13 e 14 de julho em Santa Maria, Rio Grande do Sul, e tantas outras práticas coletivas e solidárias que indicam partilha e cuidado com a Casa Comum. Os sinais dos tempos na construção do BEM VIVER estão à vista, ainda que os poderosos de plantão não vejam o rosto de quem ganha salário mínimo ou menos, matem os filhos das/os lutadoras/es, encarcerem quem luta por justiça e por pão para quem tem fome.
O trabalho de base de todos os dias, a formação política em todos os níveis, a presença crescente das juventudes e das mulheres na cena brasileira, ninguém soltando a mão de ninguém, hão de fazer brilhar a luz da verdade e a esperança, mais cedo ou mais tarde.
Assim, o dia 10 de julho de dois mil de julho será lembrado, por uma Reforma contra os pobres e pelo voto dos parlamentares federais contra o povo brasileiro, sim. Mas será lembrado também e principalmente pelo nome dos que lutaram para que o Brasil seja uma Nação, onde brasileiras e brasileiros constroem, queira o poder instalado e hegemônico, seu próprio destino e sua História.
Edição: Marcelo Ferreira