Eram quatro horas da tarde dessa quinta-feira (4) quando manifestantes começaram a chegar na frente do prédio da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Com cartazes e faixas, alertavam as pessoas que passavam pelo local sobre os riscos da mineração de carvão a céu aberto que a empresa Copelmi quer instalar a 16 km da capital gaúcha. Tendo em vista que era o último dia para a impugnação do projeto, que atualmente está em processo de licenciamento junto à Fepam, os presentes protocolaram pareceres contrários aos estudos dos impactos ambientais apresentados pela empresa responsável pela mina. Pediam, acima de tudo, uma audiência em Porto Alegre.
Organizado pelo Comitê de Combate à Megamineração no Rio Grande do Sul, que representa entidades ambientais, sindicais, associativas e movimentos sociais, o ato teve, além dos simpatizantes à causa, representantes do poder legislativo que vieram se somar na cobrança da realização do debate na capital, assim como em outras cidades.
“Queremos que a Fepam atue como órgão regulador, fiscalizador e não como um órgão militante da Copelmi, essa empresa que quer trazer para nós prejuízos ambientais e levar o lucro para o bolso de poucos”, declarou o deputado estadual Edgar Preto (PT).
Para o vereador do PSOL, Roberto Robaina, não é possível que um megainvestimento seja feito sem que a sociedade debata. “Temos a obrigação de discutir com todos os porto-alegrenses as consequências desse tipo de intervenção, desse tipo de investimento que mostra como o RS está atrasado. Enquanto o mundo inteiro discute a superação de uma energia poluente, aqui querem fazer uma mina de carvão”, criticou.
A deputada Sofia Cavedon (PT), presente ao ato, protocolou o pedido para que seja realizada a audiência na capital. “O povo está aqui para fortalecer as análises técnicas feitas e protocoladas hoje, que demonstram o grau de risco e de impacto ambiental que nós vamos sofrer se tiver a aprovação dessa mina. Então, nosso diálogo e do povo gaúcho tem que ser com responsabilidade técnica, com o constrangimento político do governador e de todos que querem explorar a vida humana”, concluiu. Além de Sofia, assinaram o requerimento a deputada Luciana Genro (PSOL), Pepe Vargas (PT), Jeferson Fernandes (PT), Fernando Marroni (PT) e Edgar Preto (PT).
Além dos riscos ambientais
“Está em risco não só o nosso ar, nossa água, mas também toda vida humana e de todos animais, da fauna e da flora aqui na região metropolitana”, destacou Marcos Todt, um dos coordenadores do Comitê de Combate à Megamineração. Todt também comentou o problema socioambiental que envolve o projeto, a remoção das populações que terão que deixar seu território, como o caso das mais de 70 famílias do assentamento Apolônio de Carvalho, que são responsáveis por grande parte produção de arroz orgânico no Rio Grande do Sul. “Tirar da terra pequenos produtores e agricultores de arroz sem veneno, e trocar isso por carvão, é isso está em jogo”.
Também integrante do comitê, a mineira Carla Menegaz, que entre idas e vindas está há 20 anos em Porto Alegre, constatou em sua última visita à Minas Gerais, em janeiro desse ano, as mudanças que o Estado vem sofrendo após as tragédias de Mariana e Brumadinho. “Caminhando por lá, olho as montanhas e pergunto: gente, cadê a montanha que estava aqui? Uma mineradora comeu as famosas montanhas de minas. Hoje, parece um cemitério, triste, poluído, contaminadas”, relatou e observou o estado de alerta em que vivem as cidades mineiras, “porque de uma hora para outra, se tem uma chuvarada, pode ser que uma outra barragem se rompa”.
Para ela, a manifestação em Porto Alegre é muito importante para que as pessoas tomem consciência do que está prestes a acontecer aqui no Estado. “Depois de toda aquela lama tóxica, as pessoas não aguentam mais a poeira que vai ficar durante muito tempo, não tem como se recuperar, as pessoas estão adoecendo. Isso não vai passar na TV, que as pessoas estão com problemas respiratórios graves, que as crianças já estão nascendo adoecidas, que os lençóis freáticos foram contaminados. Tudo isso para que? Para dinheiro, e esse dinheiro não vai curar essas pessoas. E agora, vem aqui para o RS essas empresas que só querem lucro, explorar o Estado e transformar em uma colônia de carvão e ferro”.
A advogada, integrante do projeto Preserva Zona Sul e ativista do Greenpeace, Luciele Souza, lembrou que o carvão, uma energia suja, é um dos poluentes causadores do efeito estufa, o CO2, que está sendo banido por outros países no mundo através da Cop 21. “Esses países se comprometeram acabar, até 2030, com essa energia suja. Entretanto, esse empreendimento da Mina Guaíba vai até 2052, totalmente na contramão do que dispõe o resto do planeta, não tem como ficar insensível a essa situação”, assegurou.
Ao falar dos desastres que aconteceram no estado mineiro, a empresa Copelmi alega que não há o mesmo risco, pois o empreendimento não terá barragens. Para Fernando Costa, do Amigos da Terra Brasil, a mina é a própria barragem de rejeitos. “É fundamental termos essa audiência pública aqui em Porto Alegre porque os impactos são realmente na região metropolitana. Inclusive, outras cidades deveriam ter essa convocação. Porto Alegre não sabe ainda o que vai acontecer aqui perto. E cada vez que a gente se debruça sobre os impactos, eles se tornam maiores”.
Próxima audiência sobre a mineração
Na próxima quinta-feira (11), a Câmara de Vereadores de Guaíba, realizará uma audiência para debater a instalação Mina Guaíba, às 16 horas, na Avenida Sete de Setembro, 325, centro.
Acompanhe a cobertura da manifestação pela Rede Soberania:
Edição: Marcelo Ferreira