É o colonialismo em pleno século 21
Um país e um Estado precisam de indústrias para se desenvolver. Só o comércio não adianta, por que o dinheiro em circulação serve para comprar produtos e se um Estado não produz produtos, o dinheiro que circula vai indo pra fora, para os lugares que produzem.
O acordo assinado por Bolsonaro com a União Europeia transforma o Brasil em Colônia por que destrói o pouco que resta da indústria nacional, por que acaba com as sobretaxas a produtos que os brasileiros importam da Europa. A Europa tem tecnologia e fabrica carros, laticínios e vinhos de muita qualidade. Em alguns casos, a tecnologia deles também é usada por aqui. Por exemplo, os carros. Volkswagen, Fiat, Peugeot, Renault. Acabando com a sobretaxa de 35% sobre os importados, em muitos casos já não valerá a pena as fábricas europeias manterem fábricas aqui e vão fechá-las. Desemprego em massa.
Mas e o que isto tem a ver com o Rio Grande do Sul?
O leite e seus derivados, vinhos, sucos, espumantes e calçados, entre outros, também entram no acordo. E entram também as tais “commodities”, (soja, milho e outros cereais, por exemplo). Só lembrando que estas vão em grão pra lá, e são transformadas (industrializadas) em óleo, farinha e outros produtos. Processar commodities em fábricas gera muitos empregos para os trabalhadores, riqueza para os donos das fábricas e divisas (dinheiro) para os países que os exportam. O Rio Grande do Sul já teve muitas indústrias que transformavam boa parte do que produzíamos e ainda transformávamos o que vinha de outros Estados e até países. Isso está diminuindo cada vez mais. Hoje a indústria representa só 6% do PIB - Produto Interno Bruto - do RS. E o que tem aumentado muito é a agricultura, o comércio e os serviços. Mas como falei acima, isso em algum momento pode até significar empregos, mas como com os produtos vendidos neste comércio são produtos vindos de fora, o dinheiro aos poucos vai embora. É o que está acontecendo com o RS.
Mas por que isto acontece? Por que as tais ditas elites são sabujas e subservientes. A maior parte dos representantes empresariais que vão ser duramente atingidos não só não contestaram o acordo, como o elogiaram vergonhosamente.
Olha o caso da indústria leiteira, por exemplo. Ao Jornal do Commércio, o presidente do SINDILAT - Sindicato das Industrias de Laticínios - disse explicitamente que produtores de leite, incluindo milhares de pequenos agricultores, vão ter prejuízos sim, mas que o acordo é bom, por que agora eles vão poder comprar “ordenhadeiras eletrônicas e robotizadas vindas da Europa. Tem que desenhar? Ao invés deste sujeito estar preocupado em que se produza ordenhadeiras aqui, com tecnologia daqui, e que possam gerar empregos na sua produção, ele prefere importar ordenhadeiras da Europa. A consequência é óbvia: Menos empregos na indústria de ordenhadeiras aqui e menos empregos na própria ordenha, já que as ordenhadeiras são robotizadas. Se a gente tem menos empregos, menos pessoas ganham salários. Se menos gente ganha salários decentes, menos pessoas vão poder comprar até mesmo o leite que este sujeito vai produzir com suas ordenhadeiras robotizadas importadas da Europa. Cedo ou tarde, ele vai quebrar. E sobrará o que para os gaúchos e o Rio Grande? Fome e miséria, por que ninguém vive de comer só soja, milho e outros que tais cheios de venenos e transgênicos. E se alguém acha que os europeus vão comprar muitos grãos brasileiros, cheios de agrotóxicos e transgênicos, também não vão e já estão avisando.
Outras atrocidades também foram ditas no Jornal do Commércio pelos “industriais” serviçais do colonialismo.
O calçado europeu por exemplo, vai ter suas porteiras abertas por aqui. Quem compra sapato italiano não é o povão. É a elite financeira. Vai pagar 17% a menos. Em troca, os sapatos brasileiros continuarão sendo vendidos por lá, por que já o são. Mas com um porém. Nada impede que fábricas europeias como a Adidas, por exemplo, fabriquem seus calçados na China e vendam por aqui como se Europeus fossem. Vai parecer o tempo das caravelas, onde os brasileiros de verdade eram enganados por miçangas e espelhos enquanto entregavam as riquezas nacionais que havia em abundância. É o colonialismo em pleno século 21.
Ou seja, as tais elites tupiniquim e guasca devem ter saudade do tempo em que tudo vinha da Europa e, por aqui, os escravos tocavam as charqueadas e pequenos agricultores plantavam pra sua sobrevivência.
No meio desta subserviência dos empresários gaúchos que não tem nada a ver com o Rio Grande e pensam só em seu próprio enriquecimento, há algumas exceções, é preciso dizer. É o caso do setor empresarial do vinho que, na mesma matéria ao Jornal do Commércio, mostrou a trágica consequência do acordo para este setor que aposta em desenvolvimento e melhora dos nossos produtos, como é o caso do Espumante, mas sabe que governos como Bolsonaro e Eduardo Leite levarão o Brasil e o Rio Grande ao pior retrocesso de nossa história. Muito triste.
Edição: Marcelo Ferreira