Surgiram novas expressões como “Aerococa” e “Bolsonarcos”
Lula, Dilma e todos os demais presidentes antes deles viajavam e empresários os acompanhavam para vender no exterior os seus produtos e com isto trazer divisas e gerar empregos no Brasil. Com Bolsonaro seria diferente? É a pergunta que se impõe depois que a polícia de Sevilha deteve o sargento da aeronáutica Manuel Silva Rodrigues, flagrado quando transportava 39 quilos de cocaína no avião da precursoria do presidente.
Quem viaja nestes aviões é escolhido a dedo, pois é a turma que prepara a ida e chegada do presidente a outros países e localidades. Ali vai o pessoal da segurança, do cerimonial e dos eventos da Presidência. Dizer, como disse Bolsonaro, que vai “colaborar com a polícia espanhola”, parece muito pouco. É preciso muito mais.
O “aviãozinho” do tráfico, bem pesado aliás, não pode sozinho arcar com a responsabilidade. É muito pouco crível que a operação tenha sido tocada por um só indivíduo. Também é difícil de digerir que o episódio tenha sido algo isolado. Logo, o mais provável é que estejamos tratando de uma quadrilha que se valeu de um avião da Força Aérea Brasileira, a FAB, para o tráfico internacional de drogas.
Outra pergunta que se agiganta é: quantas vezes isto já aconteceu? Não se pode atribuir toda a culpa ao sargento, colocar uma pedra em cima e trocar de assunto. Não se pode esquecer, ainda, que as Forças Armadas, incluindo-se aí a Aeronáutica, possuem forte hierarquia e os de baixo obedecem aos de cima. Logo é impositivo elucidar, de modo irrefutável, se o delito era de conhecimento de superiores até para, se nenhum envolvimento possuírem, proclamar-se amplamente sua inocência.
As ligações perigosas dos Bolsonaro – laços de amizade, com direito a discursos de louvor e entrega de comendas para policiais acusados de graves delitos – em nada ajudam. A exaltação das milícias no passado tampouco colabora para dissipar suspeições no presente.
Nas últimas horas, jornais do mundo inteiro destacaram a notícia de que o avião da comitiva serviu de cargueiro de cocaína. Surgiram novas expressões como “Aerococa” e “Bolsonarcos”. O certo é que o Brasil não pode pagar pela negligência e muito menos por ações criminosas que possam ter sido cometidas por agentes públicos.
Edição: Ayrton Centeno