O projeto Mina Guaíba, da empresa Copelmi, pretende implantar a maior mina de carvão a céu aberto do Brasil, a menos de 15 quilômetros de Porto Alegre. Com uma extração de 166 milhões de toneladas de carvão a partir de 2023, a empresa promete a criação de 1.154 empregos diretos e 3.361 indiretos, e também o aumento da arrecadação de impostos. Por outro lado, não debate os impactos sociais e ambientais. Entre eles aquele que colocará em risco uma das maiores produções de arroz orgânico da América Latina, feita pelo assentamento agroecológico Apolônio de Carvalho, assim como a desapropriação de mais de 100 famílias do condomínio Guaíba City.
A comunidade local vem resistindo ao projeto, chamando a atenção para os prejuízos que a empresa insiste em negar. Para debater os impactos das mineradoras e da extração mineral, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) realizaram no dia 11 de junho, durante todo o dia, a Assembleia Popular da Mineração. Nesse dia, esteve em pauta também outros projetos de mineração que avançam no Rio Grande do Sul
Para o coordenador do MAM, Márcio Zonta, é incompatível a indústria de mineração, sobretudo a de carvão, do lado de uma agricultura camponesa, que nesse caso, especificamente, produz orgânicos em grandes toneladas. “O que está inscrito nessa região, a tentativa é que aqui vire uma grande fronteira mineral do RS. Temos quatro grandes projetos avançados que vão daqui até São José do Norte’, aponta Zonta.
De acordo com moradores do condomínio Guaiba City e do assentamento Apolônio, a Copelmi alega que as famílias que vivem nessa região não têm qualidade de vida, que não moram bem onde estão. “Estamos contrapondo o que o Cristiano Weber, da empresa, diz, que não temos uma vida digna. Nós temos uma vida digna, somos felizes, produzimos alimentos para nós e comercializamos o excedente”, pontua Jaqueline Argolos, do assentamento Apolônio, onde vivem 72 famílias. Denise da Silva Cardoso, de 36 anos, moradora do Guaiba City, também diz não à mineradora. “Nasci e me criei lá, estou criando meus filhos, sou a terceira geração da família que vive aqui e por isso sou totalmente contra essa mina, porque é lá que eu construí a minha casa, minha vida”, defende Denise.
Nova audiência nesta quinta
Nesta quinta-feira, 27 de junho, às 18 horas, acontece uma Audiência Pública para debater a Mina Guaíba. O debate será no ginásio da Escola Municipal David Riegel Neto, em Eldorado do Sul. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler – RS (Fepam), responsável pela audiência, pontua que ela servirá para expor aos interessados o conteúdo do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) em análise a respeito do empreendimento em questão. “É fundamental que a sociedade se envolva neste momento pois a hora é agora, depois que um empreendimento desse porte se instalar, os impactos e riscos serão permanentes”, ressalta o engenheiro ambiental Eduardo Raguse Quadros, integrante da Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA Guaíba) e do Comitê de Combate à Megamineração no RS.
Ferramenta de luta
Há em andamento no Estado do RS 166 projetos de mineração. Diante dos impactos que esses projetos de mineração podem trazer ao meio ambiente nos próximos anos, mais de 50 entidades lançaram no dia 18 de junho, em Porto Alegre, o Comitê de Combate à Megamineração no Rio Grande do Sul. A iniciativa é composta por entidades ambientalistas, sindicatos, associações de moradores, movimentos populares, núcleos de pesquisas de universidades e cidadãos e cidadãs preocupados com os impactos ambientais
Edição: Marcelo Ferreira