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Artigo | Informação contra a desinformação

"Alfabetização digital não é simplesmente dar acesso a internet. É preciso compreender como funciona esse ecossistema"

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
"A internet não inventou o boato e a mentira nem as teorias da conspiração, mas tem ajudado a disseminar esse tipo de conteúdo"
"A internet não inventou o boato e a mentira nem as teorias da conspiração, mas tem ajudado a disseminar esse tipo de conteúdo" - Foto: Christophe Simon / AFP

A internet não inventou o boato e a mentira nem as teorias da conspiração, mas tem ajudado a disseminar esse tipo de conteúdo – e assim minar a confiança nas instituições. A desintermediação, ou seja, o acesso “direto” ao que o presidente, o jogador de futebol e o comediante famoso diz ou pensa, via redes sociais, infla críticas nem sempre embasadas à imprensa – aquela que manipula, distorce ou apenas esconde. O que a Globo não mostra, está no WhatsApp. O presidente é meu “amigo” na rede social. 

Rede é relação, relação pressupõe confiança. E assim transferimos credibilidade a mensagens que recebemos de quem confiamos. Minha tia não teria porque mentir. Muito menos o presidente. Se ele disse, deve ser verdade. Quanto aos jornalistas, nem sei quem eles são. São todos ingênuos ou mal intencionados. Estão sempre contra este ou aquele. Prefiro confiar nas minhas fontes – e manter as minhas crenças inabaláveis. Eis a essência da “pós-verdade”: emoções e crenças pessoais são mais importantes do que fatos objetivos para formar opiniões. Por isso, pouco importa apontar verdades ou mentiras. Compartilhamos opiniões prontas, com as quais concordamos a priori, sem questionar os fatos.

Pode ser que sua tia não tenha intenção de mentir para você, mas ela pode estar desinformada. Os jornalistas também nem sempre ajudam. Chamadas sensacionalistas e palavras mal colocadas favorecem interpretações precipitadas. Às vezes tudo isso é proposital. É impossível saber sem antes questionar. São as perguntas, não as respostas, que abrem o caminho do conhecimento. De onde veio essa informação? Essa informação é atual? É uma informação de segunda mão? Foi isso mesmo que saiu na fonte original? Quem é essa fonte? O que ela representa? Quais são seus interesses?

Alfabetização digital não é simplesmente dar acesso a internet. É preciso compreender como funciona esse ecossistema: como é a estrutura dessa rede, quem (e o quê) está por trás das informações que recebemos diariamente, por que não podemos confiar em tudo o que recebemos – mesmo das pessoas em quem mais confiamos. Isso é coisa para discutir em comunidade, de acordo com a realidade de cada comunidade. A comunidade deve ser a primeira conexão. 

* Taís Seibt  é jornalista, doutora em Comunicação pela UFRGS e professora da Unisinos

Edição: Marcelo Ferreira