Ainda que o antipetismo insuflado pelos noticiários tenha sido parte do berço do bolsonarismo e, portanto, beneficiado e fortalecido o presidente desde que este era candidato, a ênfase em relação ao primeiro grande ato deu ares de legitimação ao protesto por parte da mídia.
Mesmo com uma agenda que tem a simpatia dos grandes grupos de comunicação e capitaneada pela reforma da previdência, a gestão Bolsonaro (PSL) ajudou a provocar um viés bem diferente do adotado pelos principais jornais do país sobre a Greve Geral de 2017, na gestão Temer, cuja agenda também era defendida por esses mesmos veículos, tais como Estadão, Folha de São Paulo e O Globo. São, afinal, empresas, e trabalham dentro desta lógica. Jornalistas não são uma classe à parte da população. Uma comparação das matérias feitas à época de Temer com as referentes aos protestos contra Bolsonaro revela uma postura muito mais crítica do que a adotada na greve de 2017. Por trás de ambas narrativas, no entanto, o ponto de convergência parece ser a reforma da previdência, que não evoluiu na gestão do emedebista.
Mais destaque às reivindicações
Diferentemente de dois anos atrás, quando o destaque das manchetes estava no que chamou de depredações e tumultos, bem como o impacto nos transportes, desta vez os manifestantes e as reivindicações em si tiveram mais destaque. Uma demonstração de que a grande imprensa endossa o coro sobre o mau começo de Bolsonaro, o que empaca o andamento da reforma pretendida.
É justamente a análise sob esse aspecto - o da previdência - que parece diferenciar o enfoque. Antes, contra Temer, o padrão narrativo com foco em tumultos, vandalismo e “prejuízos” a quem desejava transitar parece ter servido como um meio de deslegitimar as manifestações, já que essas tinham como meta travar a reforma. Através de palavras, manchetes e imagens selecionadas, o viés direcionado naquele ano associou a greve à violência. Ou seja, usar exceções para classificar o todo.
“Patrões não apoiam trabalhadores”
Para a presidenta da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Maria José Braga, a estratégia editorial segue um propósito: “Não há um interesse direto das empresas de comunicação porque as reivindicações das categorias para as quais ainda há cobertura midiática não impactariam para elas. Trata-se, portanto, de uma postura de classe: patrões não apoiam trabalhadores”.
Agora, o corte na Educação, que motivou os atos, reacendeu uma efervescência popular, o que, numa análise retroativa, sempre interfere no andamento de negociações e da chamada governabilidade, uma vez que protestos são manifestações coletivas e, portanto, têm influência em popularidade e estabilidade. O oposto destas, por regra, gera imobilidade na agenda.
Dez greves que sacudiram o país
Há registros de greves desde o século 19. Foram ações de homens e mulheres escravizados que paralisaram suas atividades, tanto em fazendas como nas primeiras fábricas, tais como no arsenal do Rio de Janeiro. No entanto, pouco se sabe delas já que o olhar dos historiadores se concentrou nas instituições da classe trabalhadora do século 20, a era das grandes greves.
Edição: Marcelo Ferreira