Rio Grande do Sul

Mobilização

Greve Global pelo Clima: manifestantes realizam Marcha Popular por Justiça Climática em Porto Alegre 

Ato convocado por entidades ambientais acontece nesta sexta-feira (20) próximo a Usina do Gasômetro

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
A Marcha Popular por Justiça Climática faz parte do momento Greve Global Pelo Clima - Foto: Jorge Leão

O Rio Grande do Sul nos últimos anos, em especial 2023 e 2024, vem sendo assolado por eventos climáticos extremos, como secas, ciclones, chuvas intensas, enchentes e dias com céu encoberto devido as queimadas. Como uma resposta à crescente preocupação com as mudanças climáticas e suas consequências sociais e ambientais, entidades que atuam na defesa do meio ambiente realizarão, nesta sexta-feira (20), a Marcha Popular por Justiça Climática em Porto Alegre.

O ato, que integra o dia da Greve Global pelo Clima e será realiado cidades de diversos países, está marcado para às 15h, junto à Usina do Gasômetro. Essa é a segunda marcha a ser realizada na capital gaúcha. 

“Nossa cidade é uma dolorosa demonstração de que a necessidade de barrar a lógica destrutiva deste sistema, não é um discurso sobre o futuro. É da defesa vida de nosso povo, de nossos biomas e cidades, principalmente, aqueles mais vulnerabilizados, que se trata. Por isto nos reunimos, ONGs, movimentos, entidades, organizações, em uma Mobilização Popular por Justiça Climática”, afirma a nota das entidades que organizam o ato. 

A mobilização é realizada pelo Eco Pelo Clima, Frente Popular de Enfrentamento a Emergência Climática, Agapan, SerAção, Núcleo RS da Rede Brasileira de Ecossocialistas, Ingá, Preserva Redenção, Movimento Salve o Harmonia, Preseva Marinha, Preserva Zona Sul, Pastoral da Ecologia, Laudato Si’ RS, Setorial Ecossocialista do PSOL-RS, Movimento Não ao Lixão-Viamão, SMAD-PT: Sec. Est. De Meio Ambiente e Desenvolvimento, Partido Verde RS, Mães e Pais Pela Democracia.

Entre as principais pautas estão: 

- Decretação de Emergência climática, já! Desde 2023 existe um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa para que seja decretada a emergência climática no estado e, até o momento, pouco avançou;

- Transição energética com investimento em energias limpas sob controle do povo, garantindo a transição energética justa;

- Medidas de adaptação às alterações climáticas com a gestão integrada de resíduos sólidos, tratamento de esgoto e acesso à água para toda população. Além da demarcação de territórios indígenas e quilombolas.

Uma resposta urgente

Ao convocar o ato, a fundadora do Eco Pelo Clima, Renata Padilha, ressalta que nos dias atuais "as crianças não dormem bem à noite pois temem a chuva e terem que acordar para buscar um abrigo para se salvarem". E prossegue: "Os postos de saúde lotados por pessoas com sintomas respiratórios e muitos de nós, atingidos pelas enchentes, ainda não tivemos nossos direitos garantidos, é inaceitável que sigamos sobrevivendo dessa forma".

Segundo ela, a marcha do dia 20 de setembro é uma "revolta da sociedade ao descaso, ao negacionismo climático e negligência de nossos representante políticos perante aos efeitos reais e cotidianos da crise climática”.

O presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Heverton Lacerda, ressalta que a situação em Porto Alegre e no RS não difere muito da maioria das cidades do Brasil, até do mundo. “A catástrofe gerada pelos últimos eventos climáticos intensos que atingiram as nossas cidades desnudou, além do solo, as nossas fragilidades enquanto sociedade.”


Foto: Jorge Leão

A sociedade, prossegue Heverton, tem a sua parcela de culpa por não cobrar com mais afinco e por eleger pessoas despreparadas. “Se o governador e o prefeito da Capital confiassem nos alertas dos ambientalistas e dos cientistas, poderiam ter tomado medidas protetivas com antecedência. O RS é berço do movimento ambiental. Os alertas sempre ecoaram por aqui. Não há desculpa para o negacionismo climático. No entanto, não precisamos apontar culpados, pois eles mesmos se expõem", afirma. 

Conforme aponta o representante do movimento Ser Ação Ativismo Ambiental e do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Inga), Emerson Prates, os estados da região Sul do Brasil  são a porta de entrada para mudanças climáticas. “Não é somente enchentes que nos preocupam. Os rios voadores trazem a fumaça do Pará, da Amazônia, enfim, para cá também. A qualidade de ar que a gente respira está afetada por conta disso.”

Na avaliação de Renata, a lavagem verde tomou conta do estado do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. Esse processo, aponta, pode ser observado no avanço da silvicultura, nas alterações do Código Ambiental do estado, na flexibilização de agrotóxicos ainda mais poluentes, no avanço massivo da especulação imobiliária acabando com parques verdes e a fauna local. “O despreparo para lidar com os eventos climáticos extremos faz parte da política neo-liberal movida pelo sistema econômico de sociedade em que vivemos, que não tem como prioridade implementar as soluções reais e urgentes que precisamos.”

Entre as soluções, prossegue, está: plantar árvores, incentivar a agricultura orgânica e familiar, criar lares para as famílias que vivem áreas de risco climático, gerir resíduos das cidades em colaboração com catadores e promover a transição energética justa. “São políticas públicas que não acumulam capital, sendo assim, não servem aos interesses dos atuais governos. Vivemos diariamente com medo, ansiedade e angustia, esperando o próximo evento climático extremo chegar. Só nós, no poder da coletividade, podemos reverter esse cenário”, avalia.

Reforço das barreiras climáticas 

“Temos que reforçar as barreiras contra mudanças climáticas e contra também as crises climáticas, até mesmo do fogo. É muito simples voltarmos a ser a capital mais arborizada do Brasil, seria uma meta. Também poderia se inovar novamente na área ambiental, já que fomos a primeira capital a ter uma Secretaria de Meio Ambiente. Poderíamos também ser a primeira capital do Brasil a decretar emergência climática. Assim como trocar o nosso quadro de vereadores e prefeito de Porto Alegre. Não podemos mais ter dentro da política negacionistas climáticos”, frisa Emerson.

De acordo com ele, há muitos empreendimentos que estão sendo feitos em área de mata ciliar, em área de preservação permanente. Na capital gaúcha, por exemplo, há empreendimentos sendo construídos próximos a unidades de conservação e outros impactentes, como a mineração de saibro, sem o devido estudo ambiental. “Estão terminando com um pouco das florestas urbanas que temos, estão desrespeitando nossas barreiras naturais contra as mudanças climáticas com esse tipo de política.”


Foto: Jorge Leão

Sobre o movimento 

A Marcha Popular por Justiça Climática faz parte do momento Greve Global Pelo Clima, iniciativa do movimento Fridays For Future que, aqui no RS, é representado pelo Eco Pelo Clima e realizada duas vezes ao ano. “No dia 31 de maio, tivemos a primeira edição de 2024 e marchamos com mais de 700 pessoas pelas ruas de Porto Alegre. Dessa vez, a Marcha está sendo organizada com o Eco e em conjunto com diversas outras organizações ambientalistas e sociais aqui do estado que assinaram a convocatória que, motivados pelos desafios climáticos gigantescos que estamos vivendo, entendem o poder da coletividade em construir as soluções reais e engajar a sociedade”, explica Renata. 

De acordo com Heverton, o movimento começou a ganhar força a partir de eventos como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), onde ativistas e organizações se reuniram para exigir ações mais contundentes dos governos.

O presidente da Agapan reforça que a marcha desta sexta-feira tem como foco chamar a atenção para a necessidade de uma transição justa para um modelo ecologicamente sustentável, que considere as questões ambientais e as desigualdades sociais. "As populações mais vulneráveis - não apenas as humanas – são as que primeiro sofrem com os impactos das mudanças climáticas. Por outro lado, as camadas economicamente mais abastadas são as que mais contribuem para o fator antropocêntrico das alterações do clima", destaca.

“É bastante simbólico fazer essa manifestação num 20 de setembro, que é comemorado nossa Semana Farroupilha, nossa cultura gaúcha. Até mesmo para mostrar que tem uma parcela da sociedade que está extremamente preocupado, porque não existe cultura sem o bioma Pampa. Se não o preservarmos talvez não tenhamos mais esse plano de fundo para comemoração dos nossos próximos 20 de setembro”, complementa Emerson.


Edição: Marcelo Ferreira