Rio Grande do Sul

FEIRA DO LIVRO

A hora e a vez de Rafael Guimaraens

Amigos se unem para defender a candidatura do jornalista/escritor a patrono do evento deste ano, o 70º da história

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O jornalista/escritor Carlos Rafael Guimaraens Filho é autor do livro “A enchente de 41” - Foto: Divulgação Libretos

A bola está na marca do pênalti para a Câmara Rio-grandense do Livro. É só chutar e comemorar. Não há hipótese de erro para este momento histórico de Porto Alegre – e de grande parte do RS.

Fomos massacrados pelo clima. O nosso Centro Histórico, e grande número de bairros, enfrentaram e enfrentam alagamentos e as suas consequências. No meio de tudo isso – sem contar socorros, ajudas, voluntários, abrigos, doações e muitas outras coisas –, um personagem se destacou pelas dezenas e dezenas de entrevistas que deu para todo tipo de veículo de comunicação, dos pequenos aos grandões, de todo o país.

Ele é o jornalista/escritor Carlos Rafael Guimaraens Filho, autor do livro “A enchente de 41”, um relato completo, com histórias e fotos, daquele evento climático, o maior de todos os tempos até chegar maio de 2024. Portanto, pergunto: Existe alguém mais completo para representar a cultura e a literatura como patrono da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre, de 1º a 17 de novembro, na Praça da Alfândega? Eu digo que não.

Ele não tinha nascido quando aconteceu aquele evento, mas agora participou como vítima. Sua casa no Bairro Menino Deus enfrentou dois alagamentos e teve que pedir socorro aos amigos. O depósito da sua editora, a Libretos, na Voluntários da Pátria, com cerca de 10 mil livros, também teve perdas quase totais. Agora, ele e os sócios, entre eles a editora Clô Barcellos, estão em trabalho árduo de reconstrução e recuperação para estarem presentes novamente com sua banca na Feira do Livro. “Vai dar, com certeza”, diz ele.

Nascido em Porto Alegre, 68 anos, Carlos Rafael Guimaraens Filho é autor de mais de 20 livros, um grande contador de histórias reais com efeitos de ficção, segundo diz. Além de escritor, é roteirista, palestrante, conferencista, faz trabalho com presos sobre literatura e é jornalista profissional desde 1976. Atuou como repórter, editor e secretário de redação da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (Coojornal). Foi editor de Política do jornal Diário do Sul. Exerceu diversas funções nas assessorias de imprensa da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Governo do Estado do RS e Assembleia Legislativa.

O tema dos seus livros é desvendar os mistérios e os fatos inusitados da história de Porto Alegre, que foram se perdendo ao longo do tempo e nunca tiveram um escritor que se debruçasse sobre estes acontecimentos com minúcias e longas pesquisas. Deixaram de ser fatos soltos, entraram para os livros, para a eternidade, como são os casos de “Tragédia da Rua da Praia”, “Abaixo a Repressão – Movimento Estudantil e as Liberdades Democráticas”, “Teatro da Arena – Palco da Resistência”, “Rua da Praia – Um Passeio no Tempo”, “Unidos pela Liberdade!”, “Mercado Público – Palácio do Povo”, “A Dama da Lagoa”, “Águas do Guaíba”, “O Sargento, o Marechal e o Faquir”, “ 20 Relatos Insólitos de Porto Alegre”, “Fim da Linha - Crime do Bonde” (2018), “O Espião que Aprendeu a Ler”, “O Incendiário”, entre outros.

Em 1986, editou o livro “Legalidade – 25 anos”. Coordenou a edição do livro “Coojornal – um Jornal de Jornalistas sob o Regime Militar” e “Os Filhos Deste Solo – Olhares Sobre o Povo Brasileiro”. Produziu o roteiro do espetáculo “Legalidade – o Musical” em 2011, exibido diante do Palácio Piratini, em comemoração aos 50 anos da Campanha da Legalidade. Também se dedicou à literatura infantil com alguns livros. Um escritor múltiplo, progressista, com textos objetivos, linguagem acessível e fácil. É um jornalista nos seus livros, tão vasto é o interesse que desperta nos seus leitores. No meu caso, li seus livros, quase todos, com encanto, tal a fluidez do seu texto e das narrativas sempre envolventes.


O tema dos seus livros é desvendar os mistérios e os fatos inusitados da história de Porto Alegre / Foto: Marcos Nedeff/Libretos

Sobre a possibilidade de ser patrono, por insistência dos amigos, Rafael escreveu em um dos grupos de WhatsApp que participa, sempre com extrema habilidade, modéstia e sensatez:

“Vou colocar minha situação com absoluta franqueza. 1) Estou inteiramente mobilizado em duas coisas: terminar o livro que estou escrevendo, que se chamará "Barra SeteSete" – é muito importante que ele fique pronto para a Feira – e, junto com a Clô Barcellos, trabalhar na recuperação da nossa editora. Posso dizer que as coisas estão indo bem, mas é uma batalha diária. 2) Desde o início do ano, produzimos, eu e a Clô, um trabalho grande para a Câmara do Livro chamado "Almanaque 70 anos", que está em fase de revisão e será lançado na Feira comemorando essa efeméride. Por conta disso, tenho me reunido com frequência com o Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Riograndense do Livro. Isso me coloca em constrangimento ético para me apresentar como candidato a patrono – aliás nas várias reuniões com o Max esse assunto nunca foi tocado. Vejo o movimento dos amigos como uma forma de afeto e companheirismo e me sinto muito emocionado com tudo isso.”

Mas, como não tenho nenhum vínculo com o Ledur, posso fazer lobby pelo Rafael para ser patrono da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre. Acho que a aspiração dos seus amigos, confrades e leitores é mais do que justa neste ano histórico de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Não é nenhum sonho, é um desejo de amigos e até de setores da imprensa e um reconhecimento a quem tanto pesquisa e traz à tona histórias da capital gaúcha.

Assim como o seu avô, Eduardo Guimaraes, foi patrono da Feira em 1969 como “poeta simbolista tardio”, Rafael deve ser escolhido patrono para a Feira de 2024. É uma luta justa e para a qual nos empenhamos como amigos.

* Jornalista

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


Edição: Katia Marko