Rio Grande do Sul

JAVIER MILEI

O valentão do teclado do celular

Presidente da Argentina tenta arrumar briga com Lula para esquentar encontro de fascistas, mas não leva nada

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Javier Milei irá palestrar no CPAC Brasil, em Balneário Camboriú, no sábado (6) - Foto: Reprodução Internet

Corrupto. Comunista. Perfeito dinossauro idiota. A língua de Javier Milei anda venenosa, cheia de sulcos de grosserias nos ataques gratuitos a Lula. Com presença confirmada para estar em Balneário Camboriú neste final de semana sem comunicar o governo federal, o argentino soltou, nos últimos dias, uma saraivada de ataques malcriados ao mandatário brasileiro.

Não disse as razões das bobagens, não houve embates recentes entre as duas potências sul-americanas que justificassem tal atitude, mas de um maluco, de um cara sem um dos parafusos do cérebro tudo pode se esperar. Ele não tem as mínimas condições para ser o inquilino da Casa Rosada. Está certo que o palácio já abrigou muitos ditadores, muitos fascistas, mas também acolheu poucos e raros dirigentes exemplares. Eram outros tempos, com mais civilidade entre os dois países. Esta verborragia indecorosa está fora de controle. É lodo e lama escorrendo pelas paredes. Coitados dos argentinos.

País com uma geografia excepcional, com belezas elogiadas mundialmente, como o Glaciar Perito Moreno, as neves de Bariloche, o glamour de Ushuaia e Mar del Plata, uma capital cheia de esplendor e cosmopolitismo como Buenos Aires, não podia cair nas mãos de um sujeito assim. Está bem. Foi eleito em momento de desespero e derretimento da economia, mas, assim mesmo, Leonel Messi, o gênio do futebol, e Ricardo Darín, o fenômeno do cinema, não precisavam ser governados por um sujeito que despeja desaforos a torto e a direito.

A Argentina tem tanta coisa boa, como vinhos, carnes de qualidade e desejadas pelo mundo inteiro, um Pampa cheio de glórias e uma Terra do Fogo cheia de atrações. Mas está difícil pensar em ir para lá sem refletir sobre o ocaso de uma democracia e no ocupante do cargo maior do governo. O povo, coitado, não vê uma luz no fim do túnel diante da crise econômica.

Déspota, arrogante, soberbo, andou chamando recentemente também o premiê espanhol Pedro Gómez de covarde, mentiroso e incompetente e a sua mulher de estar envolvida em falcatruas. Quase foram às vias de fato, mas no fim deu um rompimento parcial das relações diplomáticas. Também andou dizendo que a tentativa de golpe militar na Bolívia na semana passada foi uma fraude, uma invenção da esquerda. Extremista de direita com língua destravada só pode ser mesmo amigo de integrantes da família Bolsonaro com quem se encontrará neste final de semana em Santa Catarina num encontro de fascistas, para não dizer outras coisas. Eles dizem que é encontro de conservadores, pessoas que defendem a família e os bons costumes. Pura balela.

Basta dar uma olhada nos convidados/palestrantes para se ter uma noção da extensão do encontro, repleto de gente que diz barbaridades, mentiras, espalham fake news e ofendem as pessoas gratuitamente. Gente como Jair Bolsolnaro, Javier Milei, o governador de Santa Catarina, Jorginho Melo (PL), e os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Júlia Zanata e Caroline De Toni, todos do PL. A lista inclui ainda o senador Magno Malta (PL-ES), o líder do Partido Republicano do Chile, José Antônio Kast, e o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.

Um democrata autêntico, que sabe dialogar, respeitar as instituições e as pessoas de uma maneira geral, tenham elas qualquer orientação religiosa, sexual ou ideológica, sentiria vergonha de passar por ali e ficaria a dezenas de quilômetros deste local.

Lula devia responder a Milei por tanta estupidez? Não acredito. Acho que Lula e o seu governo não devem entrar nesta onda, não devem ajudar a esquentar o encontro desta turma. O silêncio pode mostrar que estão se lixando para estes conservadores de araque, mas devem estar enfurecidos. Devem responder por outros meios, mais civilizados. O presidente, que iria a Joinville no final de semana, cumprindo agenda oficial, cancelou a viagem para evitar aprofundar qualquer problema.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), no entanto, tomou as dores do Brasil diante das ofensas. Rebateu os ataques e qualificou Milei de moleque e vagabundo. "Não é mais o Lula, é o Brasil. Ele é o Brasil nesse momento. Gostando ou não dele, votando ou não nele, ele é o Brasil. Não dá para aplaudir o Milei, que está dando uma de moleque que vai para a internet falar mal do presidente da República. Isso é coisa de moleque, de vagabundo. O Milei é um vagabundo. A Argentina tem um presidente que é vagabundo, que em vez de cuidar dos problemas da Argentina quer se meter num outro país, atacar um outro país”, disse o senador em comissão do Senado.

“Nós, brasileiros, independente de ser direita, esquerda, centro, é o Brasil. Nós temos um representante do Brasil no mundo. Nós podemos aqui divergir em relação à questão política. Mas permitir que um outro presidente de um país, que está na miséria, o povo passando fome, queira fazer críticas pejorativas ao presidente Lula: isso não é certo. Como também não seria certo qualquer outro presidente fazer isso aos presidentes Jair Bolsonaro, Dilma, Temer, Collor”, ressaltou o parlamentar, conforme o comentarista político Lauro Jardim.

Para evitar Lula, Milei, como todo covarde que só agride à distância, também decidiu não ir à cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai, na próxima semana. É um valente só nos teclados do celular. Mas há poucas semanas atrás pediu gás para o Brasil. Como se tratasse de questão de Estado e não de ideologia, Lula concordou em auxiliar a Argentina. Com a eleição de Lula, o Brasil formalizou o financiamento para a construção de um gasoduto entre a reserva argentina de Vaca Muerta, a segunda maior jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não convencional do mundo, até o Sul do Brasil. Agora, porém, com Milei, o projeto subiu no telhado e foi para o espaço.

Como disse Salvador Allende em 1973, problemas na democracia só se resolvem com mais democracia. É o que Milei não sabe fazer, afinal nem democrata é.

* Jornalista

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


Edição: Katia Marko