Rio Grande do Sul

ENCHENTES NO RS

Apicultores estimam a perda de até 60 mil colmeias nas enchentes de maio

Rio Grande do Sul deverá perder o posto de maior produtor de mel do país e ter impacto na polinização da próxima safra

Brasil de Fato | Porto Alegre |
João Antônio Falkoski calcula que devem ter morrido cerca de um milhão e seiscentos mil abelhas só das suas colmeias, que iriam produzir uns 150 quilos de mel - Foto: José Carlos Martins

Há 35 anos João Antônio Falkoski é apicultor. Começou a gostar da lida ainda criança, quando acompanhava seu pai. Morador na Lomba Grande, em Novo Hamburgo, não viu a água chegar na sua casa, mas na enchente de maio perdeu 20 caixas das suas colmeias. “Tinha mel para ser colhido nos próximos dias. As caixas tombaram e as abelhas morreram afogadas”, lamenta.

João calcula que devem ter morrido cerca de um milhão e seiscentos mil abelhas só das suas colmeias, que iriam produzir uns 150 quilos de mel. “Nós temos uma estimativa no estado de 60 mil colmeias perdidas na enchente e isso dá alguns milhões de abelhas que vão deixar de polinizar agora na próxima safra de soja, milho, canola, nas hortas dos pequenos produtores. Então isso com certeza dá um impacto ambiental bastante considerável.”


"Isso com certeza irá causar um impacto ambiental bastante considerável", acredita João / Foto: José Carlos Martins

Responsável por 15% da produção de mel brasileira, o estado perdeu 10% da população de abelhas no ano passado e a nova enchente pode tornar nula a atividade em 2024.

Os produtores gaúchos constroem seus apiários em áreas de várzea porque a biodiversidade costuma ser mais rica nesses espaços, o que melhora a produção. A saída agora vai ser instalar os apiários nas áreas de coxilha, e isso vai diminuir a produção. Mesmo assim, sem alimento suficiente, as abelhas do Rio Grande do Sul enfrentarão o inverno extremamente fragilizadas, o que pode elevar ainda mais as perdas no Estado.

O coordenador da Câmara Setorial da Apicultura, Patric Luderitz, destacou que o setor foi drasticamente afetado. “O levantamento inicial da Emater/RS-Ascar contabilizou, até 24 de maio, 16 mil colmeias perdidas, mas projetamos uma perda que vai de 35 a 60 mil colmeias, entre apis e abelhas sem ferrão.”

A Câmara Setorial da Apicultura se reuniu no início de junho para discutir um plano de reconstrução das cadeias produtivas. Além da mortandade das abelhas, as enchentes também prejudicaram a floração de maio, que é essencial para a produção de mel. “Perdemos praticamente toda a nossa safra de mel, estamos com estoques baixíssimos”, alertou Luderitz.


Setor projeta uma perda entre 35 e 60 mil colmeias no estado, entre apis e abelhas sem ferrão / Foto: José Carlos Martins

As entidades ligadas aos apicultores e meliponicultores elaboraram um plano de reconstrução que inclui:

Disponibilização do Parque Apícola de Taquari: O parque será utilizado para estruturar linhas de fabricação de caixas, laminadores de cera e produção de cúpulas e núcleos, visando repor o material perdido pelos produtores.

Doação de abelhas: A doação de abelhas vindas de outros estados será possível mediante a criação de uma normativa que preveja a realização de quarentenas, a fim de evitar a entrada de doenças e pragas no Rio Grande do Sul.

Compra de alimentação: A Câmara Setorial pede ao governo a compra de alimentação subsidiada ou gratuita para auxiliar os produtores na manutenção das colmeias sobreviventes durante o inverno.

O Sebrae também está oferecendo apoio aos produtores rurais afetados pelas enchentes.

O programa Sebraetec Supera disponibiliza consultoria para avaliação do espaço físico e elaboração do plano de negócio para reabertura de empresas, além de um recurso de até R$ 15 mil para pequenos negócios custearem reparos, serviços e aquisições necessárias para voltarem a funcionar.


Edição: Katia Marko