Rio Grande do Sul

CAOS CLIMÁTICO

Crime organizado promete 'consequências' para quem saquear casas no Sul do estado

Facção criminosa diz que não admitirá 'chinelagem' em momento de fragilidade da população

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A onda de roubos às casas abandonadas devido às cheias no estado, motivou uma advertência inesperada em Pelotas - Foto: Michel Corvello

A onda de roubos às casas abandonadas devido às cheias no estado, motivou uma advertência inesperada em Pelotas, 340 mil habitantes, maior cidade da Metade Sul do Rio Grande do Sul. Veio de fonte surpreendente: uma facção do crime organizado.

Em comunicado atribuído ao grupo Dos Tauras e postado no X, antigo Twitter, existe um aviso muito claro: “Queremos deixar a visão a todos que essas casas foram deixadas pelo motivo das enchentes, intervenção da Defesa Civil, e entre outros motivos, caso forem saqueadas, violadas ou qualquer ato de chinelagem, as consequências serão imediatamente postas em prática”, expressa a mensagem a sua maneira.  

Diabo da Tasmânia 

Não se sabe quais “as consequências” que serão “imediatamente postas em prática”, mas se supõe que seja um castigo muito severo. Tanto que reiteram o recado com maior ênfase usando letras maiúsculas: “NÃO ACEITAMOS DENTRO DA FACÇÃO ATO DE CHINELAGEM EM UM MOMENTO DE FRAGILIDADE DA POPULAÇÃO”.
      
Datado do dia 7, terça-feira passada, começa chamando a atenção para a gravidade da situação: “Viemos por meia desse comunicar, avisar a todos os integrantes da FACÇÃO DOS TAURAS e seus representantes dentro de cada cidade no qual somos responsáveis, para ajudar nesse momento de fragilidade que encontramos a todos que ali necessitem de ajuda”. Com 11 linhas, traz como ilustração uma imagem colorida do símbolo da facção, o Diabo da Tasmânia, personagem de desenho animado.

Dos Tauras é tida como a principal facção de uma área que abrange 25 municípios. É o que aponta o estudo “Facções e cena criminal na Zona Sul do Rio Grande do Sul”, dos professores Luiz Antônio Bogo Chies e Samuel Malafaia Rivero, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), apresentado em 2020 na 44ª reunião da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).

“Respeito às famílias”

Seu trabalho levantou, por exemplo, o que seria o estatuto da facção, que prega respeito, humildade, mas também hierarquia e disciplina. Declara não procurar guerra “MAS SE ATRAVESSAR EM NOSSO CAMINHO E NÓS VAMOS COM A RAZÃO VAMOS PRA CIMA COM TODOS OS TIPOS DE ARMAS” (em maiúsculas no texto).
     
Chies e Rivero também reproduzem o que chamaram de “algumas perspectivas morais da facção”, escritas a mão novamente em caixa alta: “QUE FIQUEM BEM CLARO QUE ESTRUPADORES (sic), CAGUETAS E MATADORES DE CRIANÇAS NÃO TEM EM NOSSA ORGANIZAÇÃO, OS TAURA RESPEITAM FAMÍLIAS DE NOSSOS CONTRA, CASO MEXEREM COM A NOSSA FAMÍLIA VÃO TER SUAS FAMÍLIAS”.
     
A facção Mata Rindo, diz a pesquisa, é a principal rival dos Taura na territorialização do crime na região. Identifica-se também através de um personagem de animação, no caso, o coelho Pernalonga, também presente nas tatuagens do seus componentes.

“Vamos prender todo mundo”

O estudo dos professores da UCPel repara que, no Rio Grande do Sul, ao contrário de outros estados, a cena do crime organizado não está sob poder de facções nacionais, mas regionais. Se em Pelotas quem comanda são Dos Tauras e Mata Rindo, em Porto Alegre o domínio pertence aos grupos Os Manos e Bala na Cara. 
       
O aumento dos roubos já levou o secretário de Segurança do estado, Sérgio Caron, a declarar que “Vamos prender todo mundo”. Foi o que disse em entrevista à rádio Gaúcha na terça-feira (7). “A gente tem visto pessoas praticando furtos, assaltos, arrombamentos neste momento de crise”, contou Caron, prometendo ampliar as capturas que já estaria na casa das dezenas. 

Além do efetivo da Brigada Militar e da Polícia Civil, mil homens do governo federal – Polícia Federal e Força Nacional de Segurança – estão policiando as cidades alagadas e combatendo os saqueadores.


Edição: Katia Marko