É cada vez mais urgente e necessário criar o futuro como utopia na atual realidade brasileira
“Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente tornando-se cada vez mais intolerável e o anúncio de um futuro a ser criado, construído política, estética e eticamente por nós, mulheres e homens.” A afirmação acima de Paulo Freire, do Pedagogia da Esperança, marcou a mensagem do CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, nos 101 anos de Paulo Freire, celebrados dia 19 de setembro de 2022.
Lula disse, em reunião com oito ex-candidatos a presidente da República no dia do aniversário de Paulo Freire: “É importante esse dia, porque se Paulo Freire fosse vivo, hoje ele estaria completando 101 anos de idade.” Quando da declaração da anistia de Paulo Freire, em 2012, a pedido da Rede TALHER de Educação Cidadã (RECID) e do Programa Escolas-Irmãs, Lula declarou: “Anistiar Paulo Freire é libertar o Brasil da cegueira moral e intelectual que levou governantes a considerarem inimigos da Pátria educadoras e educadores que queriam libertar o país da cegueira do analfabetismo” (In ´Paulo Freire, anistiado político brasileiro´, Moacir Gadotti e Paulo Abrão (org.), Brasília/São Paulo, 2012).
Minha declaração no Ato de declaração da Anistia, em nome da Presidência da República: “Paulo Freire, educador popular e cidadão do mundo, finalmente vai voltar a ser cidadão brasileiro em sentido pleno: com direito a reconhecimento formal de sua brasilidade e de sua contribuição à educação como prática da liberdade, à Pedagogia da Oprimida e do Oprimido, da Indignação e da Autonomia” (Paulo Freire, Cidadão Brasileiro, in ´Paulo Freire, anistiado político´, 2012).
O presente, tal como Paulo Freire escreveu em 1992, está cada vez mais intolerável em 2022, e precisa ser denunciado. E é cada vez mais urgente e necessário criar o futuro como utopia na atual realidade brasileira e mundial. Paulo Freire anunciaria hoje que ´um outro mundo possível´ constrói-se a cada dia com a participação de homens e mulheres, tal como anunciado no 1º Fórum Social Mundial acontecido em 2001 em Porto Alegre, terra do Orçamento Participativo.
Onde estaria Paulo Freire neste final de setembro de 2022? Estaria, com certeza, nos comícios e na rua com Lula. Estaria na rua com Olívio Dutra, ajudando na sua campanha a senador gaúcho. Estaria na rua com Edegar Pretto governador, para levá-lo ao segundo turno no Rio Grande do Sul. Estaria na rua com os candidatos populares a deputado federal e estadual. Estaria na rua com o povo brasileiro todos os dias, todo o tempo, com sua pedagogia libertadora, na luta por direitos para trabalhadoras e trabalhadores, por democracia e soberania.
Eleição é ação concreta de mobilização e organização popular. Eleição é também formação, no debate e formulação de programas de governo e projetos de sociedade. Paulo Freire e sua pedagogia são sempre formação na ação. Não só formação, não só ação, e sim formação na ação. Formando e agindo. Agindo e formando.
Precisamos de Paulo Freire em 2022 nos seus 101 anos. Somos freireanos quando superamos Paulo Freire e o reinventamos a cada dia, como ele mesmo disse certa vez. Superar Paulo Freire, num governo Lula, num governo Edegar Pretto, no Parlamento, é formar e agir, agir e formar, enfrentando a fome, a miséria e o desemprego, construindo políticas públicas com participação popular, abrindo o diálogo entre a educação formal e a não formal, a educação popular presente na sociedade e nos governos populares, fazendo acontecer a consciência cidadã.
Nos seus 101 anos, Paulo Freire tem orgulho de militantes, lutadoras e lutadores, sonhadoras e sonhadores. E está ao lado, está junto, está abraçado com quem está na rua, porque ´ninguém solta a mão de ninguém´ nesta hora da história, na eleição das nossas vidas. Paulo Freire é ENCANTAR A POLÍTICA, é ESPERANÇAR. No Rio Grande do Sul, a primavera está começando com chuva e frio. Mas logo, logo a amiga ´prima-vera´ de sempre chegará com todo esplendor, em 2 de outubro, Paulo Freire iluminando a utopia.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko